sexta-feira, dezembro 26, 2008




Olhas o amanhecer,
vives o amanhecer como o único instante
em que o céu é entreaberto segredo de um deus mudo.

Espera: algo vai se revelar e deves estar pronto
para mergulhar teu sonho num poço de luz casta.

O intocado te espera. E amanhece. E te iluminas
como se trincasses com os dentes a polpa do absoluto.


Alphonsus de Guimaraens Filho

quinta-feira, dezembro 25, 2008


Fim de tarde no dia de Natal

segunda-feira, dezembro 15, 2008


Iremos juntos sozinhos pela praia
Embalados no dia
Colhendo as algas roxas e corais
Que na praia deixou a maré cheia.

As palavras que disseres e que eu disser
Serão somente as palavras que há nas coisas
Virás comigo desumanamente
Como vêm as ondas com o vento.

O belo dia liso como um linho
Interminável será sem um defeito
Cheio de imagens e conhecimento.

Sophia de Mello Breyner Andresen


sábado, dezembro 13, 2008


Mar Sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, dezembro 10, 2008


Mar, Metade da minha Alma é feita de Maresia.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Eles São Importantes e Precisam de Si!!

http://gondomar-porto.olx.pt/eles-sao-importantes-e-precisam-de-si-petsitter-iid-16299024

terça-feira, dezembro 02, 2008


"...Acordei com estrelas sobre o rosto. Subiam até mim ruídos campinos.
Aromas de noite, de terra e de sol refrescavam-me as têmporas.
A paz maravilhosa deste verão adormecido entrava em mim,
como uma maré."

domingo, novembro 30, 2008


" Era por natureza solitário e na sua qualidade de estrangeiro estava
ainda mais sozinho, mas isso agradava-lhe. A multidão não o oprimia,
porque no meio do tumulto encontrava sempre um lugar sereno para a sua alma.
Sentia saudades dos espaços abertos em que sempre vivera antes, mas também
gostava daquela cidade com a pátina de séculos, as suas ruas acanhadas, os
seus edifícios de pedra e as suas escuras igrejas."

Isabel Allende in Zorro O Começo da Lenda



sábado, novembro 29, 2008

É na Simplicidade da tua companhia que eu sou genuinamente Feliz!

domingo, outubro 12, 2008


Por vezes não há a consciência que o amor é de facto a coisa mais importante das nossas vidas e por vezes para o sabermos e sentirmos precisamos da ajuda do sábio Tempo, para termos a certeza. Esperemos hoje, ou amanha mas a derradeira verdade é que podemos amar agora...

Por vezes, a vida surpreende-nos.
E o que estava bem ontem, hoje
pode estar completamente diferente...

quinta-feira, outubro 09, 2008


Nas vastas águas que as remadas medem,
tranquila a noite está adormecida.
Desliza o barco, sem que se conheça
que espaço ou tempo existe noutra vida,
ou nesta, em que da noite o respirar
é um sussurro de águas contra o casco
em que os barcos naufragam, e nas praias
há cascos arruinados que apodrecem,
a desfazer-se ao sol, ao vento, à chuva,
e cujos os nomes se não vêem já.

Ao que singrando vai, a noite esconde o nome.

Jorge de Sena in "Sinais de Fogo"

quarta-feira, outubro 08, 2008

Lay beside me
Tell me what I`ve done
The door is closed, so are your eyes
But now I see the sun
Now I see the sun
Yes, now I see it

terça-feira, outubro 07, 2008


Dança sobre as ondas do mar
gaivota dos Alteirinhos
desperta dia após dia
a vida da praia ainda fria

Gaivota dos Alteirinhos
é tão bom ver-te voar
gaivota dos Alteirinhos
nuncas deixes de acordar
nunca deixes de acordar

How can I be lost, If i`ve got nowhere to go?
Search for seas of gold,
How come it`s got so cold?
How can I be lost? In remembrance I relive.
And how can I blame you?
When it`s me I can forgive?


sábado, setembro 13, 2008


Quando dormes
E te esqueces
O que vês?
Tu quem és?

Quando eu voltar
O que vais dizer?
Vou sentar
No meu Lugar

Adeus, não afastes os teus olhos dos meus
Isolar para sempre este tempo
É tudo o que tenho para dar

Quando acordas
Por quem chamas tu?
Vou esperar
Eu vou ficar

Nos teus braços
Eu vou conseguir fixar
O teu ar
A tua surpresa

Adeus...

quarta-feira, julho 16, 2008


My song is love
love to the loveless shown
and it goes up
You don`t have to be alone
My song is love, is love unknown
and i have got to get that message home


quinta-feira, julho 10, 2008


Poema Para Uma Nuvem de Paz

Uma Nuvem, uma promessa: chuvas de Paz. Muitas nuvens artes móveis, preenchem o azul: muitas imagens, cores e tons de Paz... Tintas brancas, pincéis de fraternidade, desenham arabescos e o vento da solidariedade, é suposto: tela de Paz... Brancos lírios, antúrios brancos, jasmins, magnólias, pétalas brancas, ramalhetes olorosos, cheiros de Paz... Ninhais de garças, pombos aos beijos, símbolos pacíficos, bandeiras de Paz... Origamis, papéis com poemas, lanternas japonesas a tremular à luz interna: falam de Paz... junte tudo, no côncavo das mãos, sopre e mande para o Alto: mais nuvens grávidas de amor, pela Paz no planeta Terra a partir da vontade das pessoas de Bem...

sábado, maio 03, 2008

O lenço que me ofertaste
Tinha um coração no meio
Quando ao nosso amor faltaste
Eu fui-me ao lenço e rasguei-o.
Ainda me lembro esse lenço
Vindo do teu seio túmido
Escondi-o ainda húmido
Num peito de fogo intenso
E se acaso, hoje penso
No qual infantil receio,
Muito orgulhosamente ardendo
Lamento a minha loucura
Porque esse lenço o perjura
Tinha um coração no meio
Esse coração bordado
Por triste sina era o meu
E por isso ele morreu
Quando o lenço foi rasgado
Foi-se a chama do passado
Pois em cinzas sepultaste
Este amor que atraiçoaste
O que serve a dor incalma
Vesti de luto a minh'alma
Quando ao nosso amor faltaste
Beijos, sorrisos e afagos
Me deste hei-de esquecê-los
Pois os teus doces desvelos
Com meus beijos foram pagos
Teus olhos eram dois lagos
Lascivo era o teu seio
Foi tudo efémero enleio
Breve e fugaz ilusão
Magoaste-me o coração
Eu fui-me ao lenço e rasguei-o


O Lenço de Henrique Rêgo

sexta-feira, abril 25, 2008


Todos os dias no meu céu, minúsculos e enormes cães, cães de todas as espécies, corriam pelo parque diante do meu quarto. Assim que abria a porta, via-os gordos e felizes, magrinhos e peludos ou elegantes e de pêlo raso. Os pitbulls rebolavam de costas ao sol, com as tetas escuras das fêmeas a pedir aos cachorrinhos que mamassem. Os baixotes tropeçavam nas orelhas, empurrando com o nariz as pernas dos galgos e as cabeças dos pequineses. Quando a Holly pegava no seu saxofone-tenor, se instalava junto da porta que dava para o parque e tocava blues, os cães juntavam-se a ela num coro. Sentados, uivavam, até que outras portas se abriam e saíam delas mulheres que viviam sozinhas ou aos pares. Eu saía também, a Holy encetava um bis interminável, com o Sol a baixar no horizonte, e dançavamos todas com os cães. Corríamos atrás deles e eles de nós. Fazíamos uma roda, cauda com cauda. Tínhamos vestidos às pintas, às flores, às riscas, lisos. Quando a Lua já ia alta, a música parava. A dança parava. Ficávamos imóveis.
A Sr.Bethel Utemeyer, a residente mais velha do meu céu, ia buscar o seu violino. A Holy tocava suavemente o seu instrumento. Faziam um dueto. Uma mulher velha e calada, outra ainda rapariga. Para trás e para a frente, as duas criavam um louco consolo esquizóide.
As dançarinas entravam lentamente nos seus quartos. A música ressoava até que a Holy por fim repetia e a Sr.Utemeyer, calma, direita, histórica, terminava com um andamento vivo de dança.
A casa adormecida nessa altura; aquela era a minha oração da tarde.

quarta-feira, abril 02, 2008


Dentro do globo de neve em cima da secretária do meu pai
havia um pinguim com um cachecol às riscas encarnadas e brancas.
Quando eu era pequena, o meu pai sentava-me ao colo e pegava
no globo de neve. Punha-o de pernas para o ar, para a neve se juntar na
parte de cima, e depois endireitava-o de repente. Ficávamos os dois
a ver a neve a cair lentamente à volta do pinguim. Eu costumava pensar
que ele estava sozinho lá dentro e tinha pena dele. Um dia, falei nisso
ao meu pai e ele disse: " Não te preocupes, Susie, porque ele está fechado
num mundo perfeito."

quarta-feira, março 26, 2008


" (...) Na solidão da noite, quase conseguia sentir a finitude da vida e como ela
era preciosa. Nós damo-la por garantida, mas ela é frágil, precária, incerta
susceptível de acabar a qualquer momento sem aviso.
Lembrei-me daquilo que devia ser uma evidência mas nem sempre é:
que vale a pena saborear cada dia, cada hora e cada minuto das nossas vidas."


John Grogan in Marley & Eu

sexta-feira, março 21, 2008



Vi o sol avermelhado ser enterrado
Juntamente com sementes douradas
De milho e gotas de suor em covas
Abertas por enxada.

Vi um pescador tirar com sua rede
A lua despedaçada da lagoa
E ela mal tinha se enchido de prata
Para vaguear à toa.

Ouvi ao longe o choro da criança que
Pediu para mamar no peito quente
Antes de adormecer o sorriso puro
De bebé no colo da mamãe contente.

Ouvi num lugar qualquer do lugarejo
Os sinos da igreja repicarem e calarem
O vozeio estridente dos guris.
Percebi a noite sendo fatiada pelos vôos
Negros dos morcegos buscando sapotis.

O sereno já se deposita em cristais
Nos arames farpados das cercas
E nas teias de aranha que irão reter
Os primeiros sóis do dia seguinte.

Eu me esqueci no momento bucólico
E quase adormeci abraçado à viola,
Que dedilhou canções, por esmola,
Para a minha alma dolente e pedinte.


António Miranda Fernandes in Momento Bucólico


Dia Mundial da Poesia...
Dia da Árvore...
E o começo de uma nova estação... A Primavera



quinta-feira, março 20, 2008

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles in A Arte de Ser Feliz


quarta-feira, março 19, 2008

O muro é branco
e bruscamente
sobre o branco do muro cai a noite.
Há um cavalo próximo do silêncio,
uma pedra fria sobre a boca,
pedra cega de sono.
Amar-te-ia se viesses agora
ou inclinasses
o teu rosto sobre o meu tão puro
e tão perdido,
ó Vida.
Eugénio de Andrade

terça-feira, março 18, 2008


Fim de Tarde em Fornos de Algodres
Hoje vou vivendo lentamente...
Sem horas nem horários...
Vou absorvendo cada instante com calma e suavemente
Hoje escuto os ruídos do mundo...
Atentamente...
No fundo de mim, começa a emergir um sorriso...
e sorrio...
Alegremente...

domingo, março 16, 2008


Histórias Para Alimentar Sonhos

– Está na hora de ires dormir…

– Sim, mas contas-me aquela história?
A do príncipe completo e da princesa brilhante?

– Está bem…

– Era uma vez…

– Era uma vez, há muitos muitos anos, uma princesa muito bonita chamada Anajo que vivia na torre num castelo. O castelo tinha um jardim cheio de flores e um rio. A princesa vivia serena mas por vezes entristecia-se porque no escuro ninguém a via. De noite, só se conseguia ver a Princesa se houvesse lua cheia.

– Mas depois veio o príncipe!

– Sim. Era uma vez um príncipe chamado Balop que vivia num reino muito distante e era muito corajoso. Balop vivia sereno mas de noite chorava porque o seu coração tinha um buraquinho por onde entrava o frio. Ninguém sabia que era assim. Mas Balop entristecia-se porque quando sentia esse frio, nas noites em que não havia luar, pensava que não fazia sentido nenhum lutar tão destemidamente. Então um dia, o príncipe decidiu partir e procurar uma cura para o seu coração.

– E então conheceu a princesa!

– Estás a apressar a história… Mas foi assim, o príncipe partiu e viajou com o seu cavalo por muitas terras, montes e vales e, certa noite, chegou ao jardim da princesa Anajo. Era noite de lua nova, não havia luar, mas Balop viu a princesa e o olhar colou-se logo no dela. Então Anajo começou a brilhar, a brilhar, a brilhar muito como se houvesse lua cheia. Muito feliz, a princesa encheu o coração de Balop com flores perfumadas e ele deixou de sentir aquela tristeza que o fez partir. Então ele ficou completo e compreendeu que só tinha deixado o seu reino para encontrar Anajo.

– E viveram felizes para sempre!

– Sim, mas espera, a história não acaba aqui. Como Balop era tão completo e Anajo tão brilhante, eles decidiam partilhar isso com toda a gente que encontravam. E então todos os seus amigos participavam no amor deles. A princesa dava-lhes brilho e o príncipe defendia-os erguendo a sua espada.

– É por isso que eu gosto mais desta história. É diferente das outras.

sábado, março 15, 2008

Where did we come from?
Why are we here?
Where do we go when we die?
What lies beyond
And what lay before?
Is anything certain in life?
They say,
"Life is too short,"
"The here and the now"
And "You're only given one shot"
But could there be more,
Have I lived before,
Or could this be all that we've got?

If I die tomorrow
I'd be all right
Because I believe
That after we're gone
The spirit carries on

I used to be frightened of dying
I used to think death was the end
But that was before
I'm not scared anymore
I know that my soul will transcend
I may never find all the answers
I may never understand why
I may never prove
What I know to be true
But I know that I still have to try

If I die tomorrow
I'd be all right
Because I believe
That after we're gone
The spirit carries on

Victoria:"Move on, be brave
Don't weep at my grave
Because I am no longer here
But please never let
Your memory of me disappear"
Nicholas:Safe in the light that surrounds me
Free of the fear and the pain
My questioning mind
Has helped me to find
The meaning in my life again
Victoria's realI finally feel
At peace with the girl in my dreams
And now that I'm here
It's perfectly clear
I found out what all of this means

If I die tomorrow
I'd be all right
Because I believe
That after we're gone
The spirit carries on


The Spirit Carries On by Dream Theater


sexta-feira, março 14, 2008


Pablo Ruiz Picasso
" O Sonho "

Venta lá fora

E no morno de mim

Imagino o mundo

Como um quadro maluco

De um pintor famoso

Um quadro cubista

Excêntrico

Surreal

Com amarelos

Laranjas

Verdes

Cinzentos

Castanhos

Numa mistura agradavelmente doce

E fria

Gela-me a alma pensar nela

Mas aquece-me a imaginação olha-la daqui

Vejo os olhos de um pintor

Perspicaz

Sonhador

Concentrado

Numa atenção cómica

Traduzida na irrealidade da sua tela

Não chove (para já)

Mas imagino os borrões

Simétricos que ele pintaria se chovessem

Lágrimas, (nem felizes nem tristes)

Desta mistura de céu,

Borrões simétricos num cubismo perfeito

De uma contemporaneidade intemporal

Vejo mentalmente o que ele pintou

E perco-me nestas letras,

Fico sem fôlego

Quero parar,

Paro,

Não paro!

É doce também o que escrevo

Neste mistura de cores que vejo imaginando

Sabe-me a jasmim,

A mel,

A canela

E a camomila também!

Este pintor é mágico

Escureceu o céu ligeiramente

E carregou nuvens severas de sentimentos

Aqui,

Sobre a mesa

Ficam as folhas do meu trabalho

Quietas

Vazias

Insípidas

Vulgares

Sem sabor

É tão mais interessante imaginar-me ali fora

No quente desta tela,

Longe do morno falso deste lareira antiga

Naquele vendaval tremendo

A dançar ao sabor do vento

A ondular

A requebrar

A embalar-me

Ser a personagem de um quadro famoso

Rebeldemente belo

(no seu cubismo perfeito)

Começa a chover

Vou sair

Vou entrar nesta peça

Neste quadro

Vou viver

Nos sonhos de um mágico pintor!

quarta-feira, março 12, 2008


Acordei Cedo.
Ainda antes do dia acordar.
Não havia sombra de sol ou claridade lá fora. Só um rasto de noite e uns laivos roxos na linha do olhar.
Sentei-me na cama à espera de ver o dia voltar a si. Mas estava demorado. As gotas de água
nos vidros denunciavam um amanhecer difícil.
Bocejei. Acendi a luz do candeeiro , vi as horas e deixei-me ficar ali sentada na ponta da cama,
os pés no soalho frio, os olhos na madrugada baça, e a cabeça no sono, ainda no sono.
Ouvi um ruído. Era sinal, que aos poucos todo o meu corpo ia despertando da letargia da noite.
Era o vento nas laranjeiras do quintal. As laranjas já estão maduras, se insistir, vai acabar por derrubá-las, e depois vão saber a chão, e já ninguém as vai querer comer...
Esfreguei os olhos com força.
Lá fora a noite não se resignava, e trocava humores com um sol sem vontade para disputas.
Enfiei um chinelos de lã e aventurei-me até à ombreira da janela de sacada...
Olhei o exterior em tom de desafio, e o vento lembrou-me as laranjas a cair da árvore e a
rebentar em estrondos de sumo no chão de lajes no quintal.
Chovia menos agora, e a madrugada , envergonhada cedia finalmente às suplicas de cama que
o sol lhe lançava.
Apanhei o cabelo sem pressas. Na cozinha, os motores cansados dos electrodomésticos
debatiam-se na monotonia dos sons. A chuva parecia ter parado de vez, e era agora só um
pingar das beiras dos telhados.
O café acabado de fazer encheu o ar de uma fragrância de especiarias quentes. Inspirei aquele
odor até mais não puder e bebi com demora o liquido que me embaciava o olhar e me aclarava o dia.
Lá fora, como num jogo de crianças, estava tudo montado para mais um acto. Tudo no mais
perfeito balanço, um jogo de compatibilidades e cedências que desde o berço do mundo
regia os vazios dos homens.
Liguei a televisão. As noticias eram como sempre deprimentes, ou não seriam noticias, mas
sim eventos. Desliguei, e deixei-me ficar ali, enterrada no sofá, longe da perfeição do mecanismo de bons dias e amanheceres risonhos que vinham pela janela da salinha.
Nunca tinha sentido vontade de fazer parte da engrenagem. Via-me, como sempre me via,
uma peça solta que sobrava na hora da montagem.
Apetecia-me voltar para a cama.
Olhei outra vez de soslaio. Vi duas vizinhas a falar na esquina da frente, sorriam em gestos largos, e havia crianças a comer bolos agarradas às suas pernas.
Respirei fundo e fechei os olhos. Só por uns breves segundos pude pensar em sair, levantar-me dali, romper o casulo e atrever-me a bater as asas, a não ter medo de mostrar as cores de mim.
Foi só um instante, um abrir e fechar de olhos, uma amarra cortada.
Ao fim do cais, apenas um grito breve e...volto atrás, pousar ao de leve, como se nunca tivesse
sequer voado.
Levantei-me do sofá. Deixei os chinelos de lã esquecidos no chão, e pé ante pé, tomando consciência do frio que me subia pela planta do corpo, voltei à cama.
Desliguei a luz do candeeiro da mesinha de cabeceira , deitei-me no mesmo compasso com que pautava as minhas horas, e, cansada de voar, adormeci sentada no cais.



Antes do dia Acordar Conto de Carmo Fernandes




domingo, março 09, 2008


Olho para trás e vejo o caminho que já foi percorrido, desde o início desta minha jornada que é a vida. Continuo a olhar para trás e vejo pegadas que são uma marca que deixo no caminho. Pegadas que são símbolo das pessoas que conheci, que são símbolo das coisas que fiz e que são memórias dos sítios que pisei. Com o olhar preso no horizonte que deixo para trás, relembro os escolhos que deixei no caminho, relembro os momentos de felicidade, relembro os momentos de amargura...relembro as pessoas que cruzaram o meu caminho e relembro as que o partilharam.

sexta-feira, março 07, 2008


Quis agarrar a ti o mar
Quis agarrar a ti o sol
Quis que o mar fosse maior
Quis que o mar tocasse o sol
Quis que a luz entrasse em nós
inundasse o lado frio
Quis agarrar a tua mão
e descer o nosso rio

Quero agarrar a ti o céu
Quero agarrar a ti o chão
Quero que a chuva molhe o campo
e que o campo seja teu
Para que eu cresça outra vez
Quero agarrar a ti raiz
Quero agarrar a ti o corpo
E eu quero ser feliz...

Quis agarrar a ti o barco
Quis agarrar a ti os remos
Que usamos nas marés
Quando as ondas são de ferro
Quero agarrar a ti a luta
Quero agarrar a ti a guerra
Quero agarrar a ti a praia
E o sabor de chegar a terra

Porque o mar tocou no sol
Inundou o lado frio
Porque o sol ficou em nós
e desceu o nosso rio
Por isso dá-me a tua mão
Não largues sem querer
Quero agarrar a ti o mar
Eu quero é viver.

Se tens medo da dor
Vem ver o que é o amor
Se não sabes curar
Vem ser o que é amar

Quero ver-te amanhecer.


Letra de Tiago Bettencourt

quinta-feira, março 06, 2008


Um Sorriso Vale Tudo!

Andar de helicóptero, conhecer uma personalidade na área da música ou do desporto,
ou mesmo viajar até à Eurodisney são apenas alguns dos sonhos que as crianças
portuguesas, que sofrem de doenças terminais ou crónicas, podem realizar com a ajuda
da associação Terra dos Sonhos.
www.terradossonhos.org

quarta-feira, março 05, 2008

Giorgio de Chirico.
Mystery and Melancholy of a Street
Private colection

"Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco."

Mário Cesariny

terça-feira, março 04, 2008


Lay me down -- lay me down
Let me sleep
It's all that I need
I had a dream
Felt so good -- felt so right
Could only be mine
And in this dream

There was a boy who
Reminded me of all that is good
With his eyes
He spoke a language
That's way too beautiful for words
In my dream
He says

"Follow me and fall in love
It's all that I am (about)
I will follow you and
You will fall never again"

I don't know -- I don't know
It's all very strange
I had a dream
Perfect time -- perfect place
Perfectly safe
And did I mention

There was this boy who
Could mend a broken heart
In seconds
Just one touch
He wrapped his arms around me
Releasing all the pain and anger
In my dream
He says

"Follow me and fall in love
It's all that I am (about)
And I will follow you
And you'll fall never again"

Then out of nowhere
Without warning
Down comes the rain
And all my thoughts are washed away
A hurricane with rude intentions
Blowing my mind
Across the universe
By now my memory is fading
Into the light
Can hardly focus in
I can't believe I missed the ending
Dream incomplete
What could be worse

I wake up

segunda-feira, março 03, 2008


Estou em mim como um soldado que deserta
Dá meia volta ao mundo em parte incerta
Não sei como cheguei aqui
Quis ser tudo

Estou mais só do que sozinho
Chega mostra-me o caminho
Leva-me para casa

Corre vem depressa
O tempo voa
Só anda às voltas
Dá um nó
Não sei como cheguei aqui
quis ser tudo

Estou mais só do que sozinho
Chega mostra-me o caminho
Leva-me para casa

O tempo voa
O tempo voa

Nem sei como cheguei aqui


Música e letra de Lúcia Moniz

domingo, março 02, 2008


The asterisk is always a pause, a recall,a gate that opens other worlds
with different explanations and realities for you, it`s something to
observe , a path to follow, to complete, a spiral that transports your attention
elsewhere and...
When you return, you always view things in a different way...

sábado, março 01, 2008

Deixa-te levar neste mar de sensações formidáveis.
Deixa-te levar na bruma fresca de maresia.
Deixa-te levar na calma agitada que espera por ti.
Deixa-te levar no vai-e-vem infinito que te dá vida.
Deixa-te levar sem medo de ires para um lugar distante.
Deixa-te levar para o horizonte sem fim onde o sol tem ocaso.
Deixa-te levar nas ondas deste mar que te embala o coração.
Deixa-te levar com a brisa forte que te envolve a alma.
Deixa-te levar... só tu podes escolher se queres partir ou ficar.
Deixa-te levar... sem destino, sem porto-de-abrigo.
Simplesmente deixa-te ir...



sexta-feira, fevereiro 29, 2008


Um pouco mais de "Humano"
...um sorriso para quem te olha...
uma palavra amiga.
A sensibilidade que a Vida nos rouba...
mas por momentos mágicos também nos devolve!!
Basta isso...Tons de Aguarela
e a Vida...assim...é Bela!!

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
--- Importa amar, sem ver a quem...
Ser mau ou bom, conforme os dias.

Agora, tu só entrevista,
quantas imagens me trouxeste!
Mas é preciso que eu resista
e não acorde um sonho agreste.

Que passes tu! Por mim, bem sei
que hei-de aceitar o que vier,
pois tarde ou cedo deverei
de sonho e pasmo apodrecer.

Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
--- Importa amar, sem ver a quem...
Ser infeliz, todos os dias!

David Mourão-Ferreira

quarta-feira, fevereiro 27, 2008


"Há duas formas para viver a vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre."
Ontem, o meu milagre foi este pequenino...mais um para juntar aqueles que todos os dias são abandonados. Para sorte dele...encontrou em mim um porto de abrigo. Um lar amoroso que o recebeu repleto de ternura e mimos. Bem vindo a Bordo...
É verdade, o menino ainda não tem nome...aceito sugestões (o meu pai já o trata por Alfa! :) )

terça-feira, fevereiro 26, 2008


Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusiva,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, fevereiro 25, 2008


Do you really believe that love will keep you from getting hurt? IV

domingo, fevereiro 24, 2008

Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Há duas formas para viver a vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.

Albert Einstein


P.S., Acredito que a nossa Amizade permanecerá para Sempre :)...Obrigada pela
Tarde calma e serena... :)...( mais um bom momento para juntar aqueles que já vivemos juntas :) )...Até Sempre, Catita


sábado, fevereiro 23, 2008


Sei que esta vida só tem um sentido... o oposto aquele que agora observo. O caminho que ainda não tem pegadas marcadas, o caminho estéril e virgem que ainda me falta percorrer nesta jornada de aventuras e desventuras que vou atravessando. A vida é mesmo assim, feita de encontros e de desencontros, de momentos em que estamos no cimo do mais alto monte que podemos alcançar e de momentos em que estamos num vale escuro e profundo. Contudo, também sei que só eu posso chegar ao cimo do monte que espero alcançar, com uma grande força de vontade e com a cabeça erguida.

É bom relembrar e saborear tudo o que faz parte do nosso passado, mas é ainda mais saboroso descobrir o presente e enfrentar o futuro... com um sorriso nos lábios, uma alma cheia de vontade e uma força desmedida de viver e vencer. Sei que não posso subestimar o futuro e o que ele me poderá reservar, mas também sei que posso e vou vencer, porque por mais que tombe, por mais reversos e derrotas que sofra, hei-de conseguir, como até agora, levantar-me e entregar-me à luta.





sexta-feira, fevereiro 22, 2008


Era uma vez o Menino da Lua,
que era um menino que vivia na Lua,
na cratera mais funda,
e que não conhecia mais nada
a não ser a Lua...

Era uma vez a Menina do Mar,
que era uma menina que vivia no mar,
enrolada nas ondas,
e que não conhecia mais nada
a não ser o mar...

o Menino da lua,
no seu mundo da Lua
sempre a sonhar,
via uma menina no mar,
a brincar...

E a Menina do Mar,
que vivia no mar
enrolada nas ondas,
desenhava na areia,
um menino da lua,
perdido a sonhar...

Porquê?!... não se sabe!!!

E o Menino da Lua,
farto de sonhar
com uma Menina do Mar
que não podia agarrar,
escalou o buraco
e pôs-se a espreitar...

Mas na Lua não há mar...
E o que o menino viu foi um homem de lança
com um dragão a lutar...

Escondeu-se. Fugiu.
Mas o que ele mais queria era a menina encontrar.

E a Menina do Mar,
que queria nas ondas com o menino brincar,
olhou para a Lua
na esperança de o ver passar...

"Como está longe a Lua", pensou, "desta forma nunca
o hei-de encontrar."

E sentou-se na areia e começou a chorar.

E o Menino da Lua de novo saiu da cratera e voltou
a espreitar para baixo para a Terra.

"São tantos os mares, como a vou encontrar?"

E tanto se pendurou lá da Lua
que escorregou...

... E aos trambolhões na Terra aterrou!!!

Olhou para tudo
que estava ao seu lado,
não conhecia nada
e ficou assustado...

E o Menino da Lua,
agora sem lar,
sentou-se na areia e começou a chorar...

Era a praia da Menina do Mar,
que a poucos passos dali
também estava a chorar...

Ao ouvir o menino
a menina olhou:
"És o Menino da Lua?"
"Acho que sou."

"E por acaso és tu
a Menina do Mar,
com quem lá na Lua
eu costumava sonhar?"

Ela pediu-lhe que ficasse com ela,
porque vista da Terra
a Lua é mais bela.

E daí em diante, que o saiba eu,
dois meninos diferentes
ficam a mirar,
quando está luar,
a Lua a brilhar,
lá em cima no céu...

P.S., Este post é dedicado ao Rapaz Especial que mora na Lua :)

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Ela vem como um anjo, como uma criança inocente,
da-nos a esperança que trará a alegria e a paz
que até agora não haviam-os encontrado.
Num certo momento, vimos que tudo está como não era antes.
Encontramos o que menos desejávamos:
A Solidão.
A Solidão é assim: em certos momentos nos traz
a paz em estarmos só, mas em outros, nos traz
arrepios e calafrios em estarmos inseguros,
sem ninguém para nos proteger.
O anjo veda-nos os olhos com uma faixa negra e nos
põe num quarto, onde as paredes estão repletas de espinhos...
e nos tornam incapazes, transformando-nos
em pessoas frias e inúteis.
A única maneira de nos livrarmos dela,
é apenas descruzarmos os braços e
arrancar com toda ferocidade o que nos cega.
É termos coragem para enfrentar o obscuro.
Só assim conseguiremos ver
que nas paredes, além de espinhos, haviam flores.
Lindas flores.
E que no outro lado daquela faixa negra,
o anjo havia escrito que a felicidade só dependeria de mim,
só dependeria do meu amor.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Não parti, mas já não sei voltar.
Ando às voltas a esquecer quem sou.
Bebo a noite até o Sol chegar.
Ele sempre me encontrou.

Só o Amor me faz correr.
Só o Amor me faz ficar.
Só o Amor me faz perder.
Só o Amor me faz querer mais.

Não sei viver sem ter de viver.
O que me dão já não sei gostar.
Não se perde o que não se quer ter.
Cada vez mais sem esperar.

E se for a primeira vez, que os teus dedos
tocam a luz da manhã.
Dá-me a tua mão. Respira o ar do dia.
Talvez nada mais.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Também eu já
Senti não haver
Lugar ou espaço
Esperança para ter...

Também eu sei
Da raiva a nascer
Por tantos gritos
Ter que conter...

Mas sei também que fora de nós
Não há salvação
Resta-nos então
Dar asas ao que se inventa

Finge, esquece, engana o desencanto
Brinda, por ti, por hoje e por enquanto
Finge, esquece, engana o desencanto
Brinda, por ti...

Também eu já
Estive sozinha
Entre tanto fel
Erva daninha

Mas vi também que fora de nós
Não há salvação
Resta-nos então
Dar asas ao que se inventa


Manual de Sobrevivência by Rádio Macau

segunda-feira, fevereiro 18, 2008


A Corrente transporta-me
até à foz
Sinto-me mais perto de mim
envolta numa tertúlia
onde tu apareces, em forma
de poema
Apetece-me gritar.
Apetece-me amar-te.
Apetece-me Voar.
Apetece-me beber a chuva,
o sol e o ar.
Apetece-me dormir contigo e
acordar na areia possuída pelo mar.
Apetece-me mergulhar
nas águas frias matizadas e
Voar com as gaivotas para além
do Oceano.
Não!
Eu vou gritar.
Eu vou amar-te.
Eu vou voar.
Eu vou beber a chuva,
o sol e o ar.
Eu vou dormir contigo e
acordar na areia possuída pelo mar.
Eu vou mergulhar
nas águas frias matizadas e
voar com as gaivotas para além
do Oceano.
Agora sou eu,
envolta numa tertúlia,
onde tu apareces, em forma
de poema.