quarta-feira, março 26, 2008


" (...) Na solidão da noite, quase conseguia sentir a finitude da vida e como ela
era preciosa. Nós damo-la por garantida, mas ela é frágil, precária, incerta
susceptível de acabar a qualquer momento sem aviso.
Lembrei-me daquilo que devia ser uma evidência mas nem sempre é:
que vale a pena saborear cada dia, cada hora e cada minuto das nossas vidas."


John Grogan in Marley & Eu

sexta-feira, março 21, 2008



Vi o sol avermelhado ser enterrado
Juntamente com sementes douradas
De milho e gotas de suor em covas
Abertas por enxada.

Vi um pescador tirar com sua rede
A lua despedaçada da lagoa
E ela mal tinha se enchido de prata
Para vaguear à toa.

Ouvi ao longe o choro da criança que
Pediu para mamar no peito quente
Antes de adormecer o sorriso puro
De bebé no colo da mamãe contente.

Ouvi num lugar qualquer do lugarejo
Os sinos da igreja repicarem e calarem
O vozeio estridente dos guris.
Percebi a noite sendo fatiada pelos vôos
Negros dos morcegos buscando sapotis.

O sereno já se deposita em cristais
Nos arames farpados das cercas
E nas teias de aranha que irão reter
Os primeiros sóis do dia seguinte.

Eu me esqueci no momento bucólico
E quase adormeci abraçado à viola,
Que dedilhou canções, por esmola,
Para a minha alma dolente e pedinte.


António Miranda Fernandes in Momento Bucólico


Dia Mundial da Poesia...
Dia da Árvore...
E o começo de uma nova estação... A Primavera



quinta-feira, março 20, 2008

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles in A Arte de Ser Feliz


quarta-feira, março 19, 2008

O muro é branco
e bruscamente
sobre o branco do muro cai a noite.
Há um cavalo próximo do silêncio,
uma pedra fria sobre a boca,
pedra cega de sono.
Amar-te-ia se viesses agora
ou inclinasses
o teu rosto sobre o meu tão puro
e tão perdido,
ó Vida.
Eugénio de Andrade

terça-feira, março 18, 2008


Fim de Tarde em Fornos de Algodres
Hoje vou vivendo lentamente...
Sem horas nem horários...
Vou absorvendo cada instante com calma e suavemente
Hoje escuto os ruídos do mundo...
Atentamente...
No fundo de mim, começa a emergir um sorriso...
e sorrio...
Alegremente...

domingo, março 16, 2008


Histórias Para Alimentar Sonhos

– Está na hora de ires dormir…

– Sim, mas contas-me aquela história?
A do príncipe completo e da princesa brilhante?

– Está bem…

– Era uma vez…

– Era uma vez, há muitos muitos anos, uma princesa muito bonita chamada Anajo que vivia na torre num castelo. O castelo tinha um jardim cheio de flores e um rio. A princesa vivia serena mas por vezes entristecia-se porque no escuro ninguém a via. De noite, só se conseguia ver a Princesa se houvesse lua cheia.

– Mas depois veio o príncipe!

– Sim. Era uma vez um príncipe chamado Balop que vivia num reino muito distante e era muito corajoso. Balop vivia sereno mas de noite chorava porque o seu coração tinha um buraquinho por onde entrava o frio. Ninguém sabia que era assim. Mas Balop entristecia-se porque quando sentia esse frio, nas noites em que não havia luar, pensava que não fazia sentido nenhum lutar tão destemidamente. Então um dia, o príncipe decidiu partir e procurar uma cura para o seu coração.

– E então conheceu a princesa!

– Estás a apressar a história… Mas foi assim, o príncipe partiu e viajou com o seu cavalo por muitas terras, montes e vales e, certa noite, chegou ao jardim da princesa Anajo. Era noite de lua nova, não havia luar, mas Balop viu a princesa e o olhar colou-se logo no dela. Então Anajo começou a brilhar, a brilhar, a brilhar muito como se houvesse lua cheia. Muito feliz, a princesa encheu o coração de Balop com flores perfumadas e ele deixou de sentir aquela tristeza que o fez partir. Então ele ficou completo e compreendeu que só tinha deixado o seu reino para encontrar Anajo.

– E viveram felizes para sempre!

– Sim, mas espera, a história não acaba aqui. Como Balop era tão completo e Anajo tão brilhante, eles decidiam partilhar isso com toda a gente que encontravam. E então todos os seus amigos participavam no amor deles. A princesa dava-lhes brilho e o príncipe defendia-os erguendo a sua espada.

– É por isso que eu gosto mais desta história. É diferente das outras.

sábado, março 15, 2008

Where did we come from?
Why are we here?
Where do we go when we die?
What lies beyond
And what lay before?
Is anything certain in life?
They say,
"Life is too short,"
"The here and the now"
And "You're only given one shot"
But could there be more,
Have I lived before,
Or could this be all that we've got?

If I die tomorrow
I'd be all right
Because I believe
That after we're gone
The spirit carries on

I used to be frightened of dying
I used to think death was the end
But that was before
I'm not scared anymore
I know that my soul will transcend
I may never find all the answers
I may never understand why
I may never prove
What I know to be true
But I know that I still have to try

If I die tomorrow
I'd be all right
Because I believe
That after we're gone
The spirit carries on

Victoria:"Move on, be brave
Don't weep at my grave
Because I am no longer here
But please never let
Your memory of me disappear"
Nicholas:Safe in the light that surrounds me
Free of the fear and the pain
My questioning mind
Has helped me to find
The meaning in my life again
Victoria's realI finally feel
At peace with the girl in my dreams
And now that I'm here
It's perfectly clear
I found out what all of this means

If I die tomorrow
I'd be all right
Because I believe
That after we're gone
The spirit carries on


The Spirit Carries On by Dream Theater


sexta-feira, março 14, 2008


Pablo Ruiz Picasso
" O Sonho "

Venta lá fora

E no morno de mim

Imagino o mundo

Como um quadro maluco

De um pintor famoso

Um quadro cubista

Excêntrico

Surreal

Com amarelos

Laranjas

Verdes

Cinzentos

Castanhos

Numa mistura agradavelmente doce

E fria

Gela-me a alma pensar nela

Mas aquece-me a imaginação olha-la daqui

Vejo os olhos de um pintor

Perspicaz

Sonhador

Concentrado

Numa atenção cómica

Traduzida na irrealidade da sua tela

Não chove (para já)

Mas imagino os borrões

Simétricos que ele pintaria se chovessem

Lágrimas, (nem felizes nem tristes)

Desta mistura de céu,

Borrões simétricos num cubismo perfeito

De uma contemporaneidade intemporal

Vejo mentalmente o que ele pintou

E perco-me nestas letras,

Fico sem fôlego

Quero parar,

Paro,

Não paro!

É doce também o que escrevo

Neste mistura de cores que vejo imaginando

Sabe-me a jasmim,

A mel,

A canela

E a camomila também!

Este pintor é mágico

Escureceu o céu ligeiramente

E carregou nuvens severas de sentimentos

Aqui,

Sobre a mesa

Ficam as folhas do meu trabalho

Quietas

Vazias

Insípidas

Vulgares

Sem sabor

É tão mais interessante imaginar-me ali fora

No quente desta tela,

Longe do morno falso deste lareira antiga

Naquele vendaval tremendo

A dançar ao sabor do vento

A ondular

A requebrar

A embalar-me

Ser a personagem de um quadro famoso

Rebeldemente belo

(no seu cubismo perfeito)

Começa a chover

Vou sair

Vou entrar nesta peça

Neste quadro

Vou viver

Nos sonhos de um mágico pintor!

quarta-feira, março 12, 2008


Acordei Cedo.
Ainda antes do dia acordar.
Não havia sombra de sol ou claridade lá fora. Só um rasto de noite e uns laivos roxos na linha do olhar.
Sentei-me na cama à espera de ver o dia voltar a si. Mas estava demorado. As gotas de água
nos vidros denunciavam um amanhecer difícil.
Bocejei. Acendi a luz do candeeiro , vi as horas e deixei-me ficar ali sentada na ponta da cama,
os pés no soalho frio, os olhos na madrugada baça, e a cabeça no sono, ainda no sono.
Ouvi um ruído. Era sinal, que aos poucos todo o meu corpo ia despertando da letargia da noite.
Era o vento nas laranjeiras do quintal. As laranjas já estão maduras, se insistir, vai acabar por derrubá-las, e depois vão saber a chão, e já ninguém as vai querer comer...
Esfreguei os olhos com força.
Lá fora a noite não se resignava, e trocava humores com um sol sem vontade para disputas.
Enfiei um chinelos de lã e aventurei-me até à ombreira da janela de sacada...
Olhei o exterior em tom de desafio, e o vento lembrou-me as laranjas a cair da árvore e a
rebentar em estrondos de sumo no chão de lajes no quintal.
Chovia menos agora, e a madrugada , envergonhada cedia finalmente às suplicas de cama que
o sol lhe lançava.
Apanhei o cabelo sem pressas. Na cozinha, os motores cansados dos electrodomésticos
debatiam-se na monotonia dos sons. A chuva parecia ter parado de vez, e era agora só um
pingar das beiras dos telhados.
O café acabado de fazer encheu o ar de uma fragrância de especiarias quentes. Inspirei aquele
odor até mais não puder e bebi com demora o liquido que me embaciava o olhar e me aclarava o dia.
Lá fora, como num jogo de crianças, estava tudo montado para mais um acto. Tudo no mais
perfeito balanço, um jogo de compatibilidades e cedências que desde o berço do mundo
regia os vazios dos homens.
Liguei a televisão. As noticias eram como sempre deprimentes, ou não seriam noticias, mas
sim eventos. Desliguei, e deixei-me ficar ali, enterrada no sofá, longe da perfeição do mecanismo de bons dias e amanheceres risonhos que vinham pela janela da salinha.
Nunca tinha sentido vontade de fazer parte da engrenagem. Via-me, como sempre me via,
uma peça solta que sobrava na hora da montagem.
Apetecia-me voltar para a cama.
Olhei outra vez de soslaio. Vi duas vizinhas a falar na esquina da frente, sorriam em gestos largos, e havia crianças a comer bolos agarradas às suas pernas.
Respirei fundo e fechei os olhos. Só por uns breves segundos pude pensar em sair, levantar-me dali, romper o casulo e atrever-me a bater as asas, a não ter medo de mostrar as cores de mim.
Foi só um instante, um abrir e fechar de olhos, uma amarra cortada.
Ao fim do cais, apenas um grito breve e...volto atrás, pousar ao de leve, como se nunca tivesse
sequer voado.
Levantei-me do sofá. Deixei os chinelos de lã esquecidos no chão, e pé ante pé, tomando consciência do frio que me subia pela planta do corpo, voltei à cama.
Desliguei a luz do candeeiro da mesinha de cabeceira , deitei-me no mesmo compasso com que pautava as minhas horas, e, cansada de voar, adormeci sentada no cais.



Antes do dia Acordar Conto de Carmo Fernandes




domingo, março 09, 2008


Olho para trás e vejo o caminho que já foi percorrido, desde o início desta minha jornada que é a vida. Continuo a olhar para trás e vejo pegadas que são uma marca que deixo no caminho. Pegadas que são símbolo das pessoas que conheci, que são símbolo das coisas que fiz e que são memórias dos sítios que pisei. Com o olhar preso no horizonte que deixo para trás, relembro os escolhos que deixei no caminho, relembro os momentos de felicidade, relembro os momentos de amargura...relembro as pessoas que cruzaram o meu caminho e relembro as que o partilharam.

sexta-feira, março 07, 2008


Quis agarrar a ti o mar
Quis agarrar a ti o sol
Quis que o mar fosse maior
Quis que o mar tocasse o sol
Quis que a luz entrasse em nós
inundasse o lado frio
Quis agarrar a tua mão
e descer o nosso rio

Quero agarrar a ti o céu
Quero agarrar a ti o chão
Quero que a chuva molhe o campo
e que o campo seja teu
Para que eu cresça outra vez
Quero agarrar a ti raiz
Quero agarrar a ti o corpo
E eu quero ser feliz...

Quis agarrar a ti o barco
Quis agarrar a ti os remos
Que usamos nas marés
Quando as ondas são de ferro
Quero agarrar a ti a luta
Quero agarrar a ti a guerra
Quero agarrar a ti a praia
E o sabor de chegar a terra

Porque o mar tocou no sol
Inundou o lado frio
Porque o sol ficou em nós
e desceu o nosso rio
Por isso dá-me a tua mão
Não largues sem querer
Quero agarrar a ti o mar
Eu quero é viver.

Se tens medo da dor
Vem ver o que é o amor
Se não sabes curar
Vem ser o que é amar

Quero ver-te amanhecer.


Letra de Tiago Bettencourt

quinta-feira, março 06, 2008


Um Sorriso Vale Tudo!

Andar de helicóptero, conhecer uma personalidade na área da música ou do desporto,
ou mesmo viajar até à Eurodisney são apenas alguns dos sonhos que as crianças
portuguesas, que sofrem de doenças terminais ou crónicas, podem realizar com a ajuda
da associação Terra dos Sonhos.
www.terradossonhos.org

quarta-feira, março 05, 2008

Giorgio de Chirico.
Mystery and Melancholy of a Street
Private colection

"Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco."

Mário Cesariny

terça-feira, março 04, 2008


Lay me down -- lay me down
Let me sleep
It's all that I need
I had a dream
Felt so good -- felt so right
Could only be mine
And in this dream

There was a boy who
Reminded me of all that is good
With his eyes
He spoke a language
That's way too beautiful for words
In my dream
He says

"Follow me and fall in love
It's all that I am (about)
I will follow you and
You will fall never again"

I don't know -- I don't know
It's all very strange
I had a dream
Perfect time -- perfect place
Perfectly safe
And did I mention

There was this boy who
Could mend a broken heart
In seconds
Just one touch
He wrapped his arms around me
Releasing all the pain and anger
In my dream
He says

"Follow me and fall in love
It's all that I am (about)
And I will follow you
And you'll fall never again"

Then out of nowhere
Without warning
Down comes the rain
And all my thoughts are washed away
A hurricane with rude intentions
Blowing my mind
Across the universe
By now my memory is fading
Into the light
Can hardly focus in
I can't believe I missed the ending
Dream incomplete
What could be worse

I wake up

segunda-feira, março 03, 2008


Estou em mim como um soldado que deserta
Dá meia volta ao mundo em parte incerta
Não sei como cheguei aqui
Quis ser tudo

Estou mais só do que sozinho
Chega mostra-me o caminho
Leva-me para casa

Corre vem depressa
O tempo voa
Só anda às voltas
Dá um nó
Não sei como cheguei aqui
quis ser tudo

Estou mais só do que sozinho
Chega mostra-me o caminho
Leva-me para casa

O tempo voa
O tempo voa

Nem sei como cheguei aqui


Música e letra de Lúcia Moniz

domingo, março 02, 2008


The asterisk is always a pause, a recall,a gate that opens other worlds
with different explanations and realities for you, it`s something to
observe , a path to follow, to complete, a spiral that transports your attention
elsewhere and...
When you return, you always view things in a different way...

sábado, março 01, 2008

Deixa-te levar neste mar de sensações formidáveis.
Deixa-te levar na bruma fresca de maresia.
Deixa-te levar na calma agitada que espera por ti.
Deixa-te levar no vai-e-vem infinito que te dá vida.
Deixa-te levar sem medo de ires para um lugar distante.
Deixa-te levar para o horizonte sem fim onde o sol tem ocaso.
Deixa-te levar nas ondas deste mar que te embala o coração.
Deixa-te levar com a brisa forte que te envolve a alma.
Deixa-te levar... só tu podes escolher se queres partir ou ficar.
Deixa-te levar... sem destino, sem porto-de-abrigo.
Simplesmente deixa-te ir...