sexta-feira, março 14, 2008


Pablo Ruiz Picasso
" O Sonho "

Venta lá fora

E no morno de mim

Imagino o mundo

Como um quadro maluco

De um pintor famoso

Um quadro cubista

Excêntrico

Surreal

Com amarelos

Laranjas

Verdes

Cinzentos

Castanhos

Numa mistura agradavelmente doce

E fria

Gela-me a alma pensar nela

Mas aquece-me a imaginação olha-la daqui

Vejo os olhos de um pintor

Perspicaz

Sonhador

Concentrado

Numa atenção cómica

Traduzida na irrealidade da sua tela

Não chove (para já)

Mas imagino os borrões

Simétricos que ele pintaria se chovessem

Lágrimas, (nem felizes nem tristes)

Desta mistura de céu,

Borrões simétricos num cubismo perfeito

De uma contemporaneidade intemporal

Vejo mentalmente o que ele pintou

E perco-me nestas letras,

Fico sem fôlego

Quero parar,

Paro,

Não paro!

É doce também o que escrevo

Neste mistura de cores que vejo imaginando

Sabe-me a jasmim,

A mel,

A canela

E a camomila também!

Este pintor é mágico

Escureceu o céu ligeiramente

E carregou nuvens severas de sentimentos

Aqui,

Sobre a mesa

Ficam as folhas do meu trabalho

Quietas

Vazias

Insípidas

Vulgares

Sem sabor

É tão mais interessante imaginar-me ali fora

No quente desta tela,

Longe do morno falso deste lareira antiga

Naquele vendaval tremendo

A dançar ao sabor do vento

A ondular

A requebrar

A embalar-me

Ser a personagem de um quadro famoso

Rebeldemente belo

(no seu cubismo perfeito)

Começa a chover

Vou sair

Vou entrar nesta peça

Neste quadro

Vou viver

Nos sonhos de um mágico pintor!

1 comentário:

Anónimo disse...
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