Venta lá fora
E no morno de mim
Imagino o mundo
Como um quadro maluco
De um pintor famoso
Um quadro cubista
Excêntrico
Surreal
Com amarelos
Laranjas
Verdes
Cinzentos
Castanhos
Numa mistura agradavelmente doce
E fria
Gela-me a alma pensar nela
Mas aquece-me a imaginação olha-la daqui
Vejo os olhos de um pintor
Perspicaz
Sonhador
Concentrado
Numa atenção cómica
Traduzida na irrealidade da sua tela
Não chove (para já)
Mas imagino os borrões
Simétricos que ele pintaria se chovessem
Lágrimas, (nem felizes nem tristes)
Desta mistura de céu,
Borrões simétricos num cubismo perfeito
De uma contemporaneidade intemporal
Vejo mentalmente o que ele pintou
E perco-me nestas letras,
Fico sem fôlego
Quero parar,
Paro,
Não paro!
É doce também o que escrevo
Neste mistura de cores que vejo imaginando
Sabe-me a jasmim,
A mel,
A canela
E a camomila também!
Este pintor é mágico
Escureceu o céu ligeiramente
E carregou nuvens severas de sentimentos
Aqui,
Sobre a mesa
Ficam as folhas do meu trabalho
Quietas
Vazias
Insípidas
Vulgares
Sem sabor
É tão mais interessante imaginar-me ali fora
No quente desta tela,
Longe do morno falso deste lareira antiga
Naquele vendaval tremendo
A dançar ao sabor do vento
A ondular
A requebrar
A embalar-me
Ser a personagem de um quadro famoso
Rebeldemente belo
(no seu cubismo perfeito)
Começa a chover
Vou sair
Vou entrar nesta peça
Neste quadro
Vou viver
Nos sonhos de um mágico pintor!
1 comentário:
Enviar um comentário