quinta-feira, janeiro 31, 2008

"(...) A Vida não é uma fotografia, em que preparamos as coisas para que fiquem bem e em seguida fixamos uma imagem para a posteridade, é um processo sujo, desordenado, rápido, cheio de imprevistos."
Isabel Allende in A Soma dos Dias


segunda-feira, janeiro 28, 2008


É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade

domingo, janeiro 27, 2008


MAS O CÉU PODE ESPERAR...

Com a delicadeza de Tua mão
Nas Tuas mãos
Com a mão na minha consciência
Consciente dos meus actos
Parcos e isolados
Eu me denuncio
Eu me fortaleço
E cresço
Eu me alindo
E deslindo...
Quem me dera ser
Um pedaço de céu!
Mas o céu pode esperar...
Espera!
Devolve-me o meu sorriso
Toca-me ao menos ao de leve
No meu movimento, no rosto
E leva para longe
Esta incerteza...
Este meu desgosto!
Vem!
Sopra sobre mim!
Pesadas estão as minhas mãos
Que não desarmam
Baralham-se
Confundem-se
Desalinham-se
Desarticulam-se
Que se cuide a natureza
Que me deu este estar
Pois a irei combater
Para ser
E o céu pode esperar
Que Te importa que continue
Qual o mal que isso Te trás?
Traz-me vivo na esperança
Eis a Tua fortaleza
Que aliada à minha fraqueza
Me renova
E cresço
Eu me alindo
E deslindo
Quem me dera ser
Quem sempre quis ser
O céu pode ir indo
Indo para onde quiser
Que espere, pois não estou preparado!
Coloca Tuas mãos nos meus cabelos
E deixa-me de novo sorrir

Rogério Simões

sábado, janeiro 26, 2008

Poemas das Árvores

As árvores crescem sós. E a sós florescem.

Começam por ser nada. Pouco a Pouco
se levantam do chão , se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas , e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós , a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem
Sós.
De dia e de Noite.
Sempre Sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.

Virtude Vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.


António Gedeão

Obra Poética









sexta-feira, janeiro 25, 2008

Triste velhice gasta pelo passar dos anos,
Tempo de solidão, de espera, de vazio
Abandono de quem não pensa ser um dia abandonado
Vazio de quem não possui mais nada, a não ser as rugas do corpo e da alma.
Olhos que já não vêem, ouvidos que não ouvem,
Contactos que se perderam com o mundo
E nós, julgando ver e ouvir, vamos sorrindo, complacentes,
Olhando os corpos, quais trapos amarrotados,
Que outrora foram fogo e chuva
E sementes e árvores de fruto.

Engano ingénuo e feliz o nosso!
Um dia seremos nós os trapos,
Rasgados e sujos,
Atirados para um canto,
Sem lugar em nenhuma casa, em nenhuma gaveta,
Sem recordações, sem chama,
Apenas uma amálgama de imagens perdidas
Sem cor e sem cheiro no nevoeiro do nosso pensamento.
Sós.



Anónimo

quinta-feira, janeiro 24, 2008


"A poesia, não se sabe bem para que serve, mas se deixasse de existir, o mundo ficaria vazio."

Idefonso Sambaíba

quarta-feira, janeiro 23, 2008


Presentes da Vida

Todo dia o ser que minh'alma revela
Pede carinho, atenção, desejo
Que não demore e nem venha em lampejo
Seja fiel, doce e terna amostra

Em seu olhar conectores de um novo mundo
Paisagens bucólicas, ovelha carente
Vulcões ao fundo, lava ardente
Viagem insólita, destino incerto

Te desejar é padecer oculto
Sentimento renovado, pecado antigo
Lava a alma e engrandece o espírito

No toque dos lábios a confissão esperada
Vidas passadas, sonhos futuros
Presente da vida, guardo você!


Poema de RDB


terça-feira, janeiro 22, 2008


A Solidão é um lugar bonito para se visitar...
Mas terrível para se Viver...

domingo, janeiro 20, 2008

Momento Mágico

Passou e não me viu

Sorriu apenas

E eu sem saber também sorri.

Só não sabia que era o Amor

Que passava e me acenava.

E eu perdi mais uma oportunidade

De ser Feliz...

Felicidade, onde estás?

Em que mundo?

Em que planeta?

Em qual sonho etéreo te encontras

Pois não te vejo

Só te sinto...

Sinto o teu perfume

Tão longe...

sábado, janeiro 19, 2008

Só por hoje
Mantive o silêncio
Um silêncio tão profundo
Que pude sentir o vazio
Um vazio perturbador
Devastador...

Hoje falei com o olhar
Alguns gestos
Um sorriso tímido
Semblante atento
Talvez distante
Só por hoje!
Mantive o silêncio
Não por momentos
Mas todo tempo.
Pude me ouvir
Sentir minha alma...
Entristeci! Confesso!
Porém amadureci...ou não!
Talvez esse silêncio perdure
E endureça meu coração
Cansado de esperar
De sonhar...
Simplesmente sonhar
Sonhar sozinho!
Sem realizar!

Permaneço em silêncio!


sexta-feira, janeiro 18, 2008

Eu com os outros
Eu sem mim ,
Assim ...
Eu para os outros
Ninguém para mim ,
Assim ...
Desse modo chego a pensar
Que a Vida chegou ao fim ,
Assim ...
Para mim
Eu sem mim !...

quinta-feira, janeiro 17, 2008

The sun rises slowly
On another day
The eastern sky grows cold
Winter in water colours
Shades of grey
Something
Something holds me hypnotized...
I stare at the window
Stare at the window
Waiting for the day to go
Winter in water colours
Shades of grey


Another Day By The Cure

quarta-feira, janeiro 16, 2008


If a fiddler played you a song, my love
And if I gave you a wheel
Would you spin for my heart and loneliness
Would you spin for my love

If I gave up all of my pride for you
And only loved you for now
Would you hide my fears and never say
"Tomorrow I must go"

Everywhere there's rain my love
Everywhere there's fear

If you tell me a lie I'll cry for you
Tell me of sin and I'll laugh
If you tell me of all the pain you've had
I'll never smile again

I can plainly see that our parts have changed
Our sands are shifting around
Need I beg to you for one more day
To find our lonely love


Phantasmagoria in Two By Tim Buckley

terça-feira, janeiro 15, 2008


Meu querido amigo, como estás?
Estou a escrever-te esta carta para te dizer o quanto eu te amo e como eu aprecio falar contigo.
Ontem eu vi-te a passear com os teus amigos. Como estavam felizes e como conversavam tanto juntos. Quanto a mim, eu esperei o dia inteiro, na esperança, que também virasses a tua atenção para mim, mas tu não me ligas-te.
Ao anoitecer, para terminares bem o teu dia, eu dei-te um belo pôr-do-sol e uma brisa fresca e fiquei esperando, mas tu não te dirigiste a mim.
Como fiquei triste...mas no entanto eu continuo a amar-te muito.
Mais tarde vi-te quando te preparavas para ires dormir e desejei tocar a tua testa.
Derramei a luz da lua sobre a tua face. E continuei esperando, que agora talvez falasses comigo...mas tu viras-te as costas para o outro lado e adormeceste.
Esta manhã, tu acordaste tarde, levantaste-te às pressas e passaste o dia a correr... e novamente não tiveste tempo para mim.
Viste cair do céu as gotas quentes da chuva da primavera? Eram lágrimas que por tua causa verti. Mas parece que hoje estás triste e abalado. Os teus amigos decepcionaram-te?
Eu compreendo-te e sei exactamente como tu te sentes. Sei como a vida é difícil na terra.
Eu sei mesmo, porque eu observo tudo.
Lembras-te?
Eu gostaria tanto de te ajudar. Chama por mim. Pergunta-me. Fala comigo.
O meu ouvido está sempre aberto para um amigo, e tu és o meu amigo.
Eu tenho tanto para te dar:
Paz - num dia de dor e angústia
Orientação - num dia de decisões difíceis e confusão
Poder - num dia de poucas forças e desespero,
Para mencionar apenas algumas coisas.
Nunca te esqueças quanto eu te amo e tanto gostaria de ajudar-te.
Sabes, é um privilégio seres meu amigo, não o queiras perder.
Quanto a mim, vou continuar à tua espera.

Teu Amigo


sábado, janeiro 12, 2008


Foi numa noite chuvosa,

Como esta que passou...

Uma noite de Chuva Mágica...

Os meus passos cruzaram-se

Com os Teus...

Bastou um simples gesto

Feito do tudo e do nada...

De repente,

Eu já estava sentada

num pequeno mas agradável sofá

de frente para ti,

e Contigo de frente para mim...

Olhos nos Olhos...

Desta vez sem a menor possibilidade

De desviar o Olhar...

Lembras-te?

Começamos a conversar

A um ritmo avassalador

Sobre os mais variados assuntos...

O teu Meigo Olhar, inspirou-me

Tal confiança...

E eu abri para Ti o meu coração...

Senti-me confortável e embalada

Pelas Tuas doces palavras...

Senti-me protegida como se estivesse

Adormecida num pequeno casulo...

( Só de pensar que tudo isto de deveu

a um Dvd que teimou a não gravar...,

ou terá sido algo superior a nós...)

A despedida...

O Teu Intenso Olhar

Valeu como um beijo...

E o teu tocar na minha mão

Foi um tocar no meu coração...

( Depois dessa noite, voltei, lentamente

a fechar o meu coração...Desculpa... )

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Walking Around

Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.

Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.

Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.


Pablo Neruda

quinta-feira, janeiro 10, 2008


Somente o Amor, essa semente
plantada inocente na infância,
Brotará, apesar da circunstância
de dor tão funda e tão recente.

A luz, quase que flama
seus olhos, sua alma, sua poesia,
será Farol às sendas da alegria
e alento àquele que lhe ama.

Na vida é perdendo que se cria
a têmpera para o dia inevitável
em que será nossa a despedida.

Então, viveremos na lembrança
de quem legamos a esperança
de novas alvoradas às crianças.

Carlos Frederico