terça-feira, março 21, 2006



A Árvore

Era uma vez - em tempos muito antigos, no arquipélago do Japão - uma árvore enorme que crescia numa ilha pequenina.
Os japoneses têm um grande amor e um grande respeito pela Natureza e tratam todas as árvores, flores, arbustos e musgos com o maior cuidado e com um constante carinho.
Assim o povo dessa ilha sentia-se tão feliz e orgulhoso por possuir uma árvore tão grande e tão bela. Em nenhuma outra ilha do Japão, nem nas maiores, existia outra árvore tão grande. Até os viajantes que por ali passavam diziam que mesmo na Coreia e na China nunca tinham visto uma árvore tão alta, com a copa tão frondosa e bem formada.
E, nas tardes de Verão, as pessoas vinham sentar-se debaixo da larga sombra e admiravam a grossura rugosa e bela do tronco, maravilhavam-se com a leve frescura da sombra, o suspirar da brisa entre as folhagens perfumadas.
Assim foi durante várias gerações.
Mas com o passar do tempo surgiu um problema terrível e por mais que todos meditassem e discutissem ninguém era capaz de arranjar uma boa solução.
Porque, ao longo dos anos, a árvore tinha crescido tanto, os seus ramos tinham-se tornado tão compridos, a sua folhagem tão espessa e a sua copa tão larga que, duarante o dia, metade da ilha ficava sempre à sombra.
De maneira que metade das casas, das ruas, das hortas e dos jardins nunca apanhava sol.
E, na metade ensombrada, as casas estavam a ficar húmidas, as ruas tinham-se tornado tristes, as hortas já não davam legumes, os jardins já não davam flor. E a gente que ali morava andava sempre pálida e constipada.
E, à medida que a sombra da árvore crescia, crescia também a perturbação.
As pessoas gemiam:
- Que havemos de fazer? Que havemos de fazer?

Sophia de Mello Breyner Anderson, in A Árvore

Porque hoje é o Dia da Árvore...

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