quinta-feira, março 30, 2006


" (...) Sozinho, fora do pueblo, na planície nua da mesa. O rochedo assemelhava-se a ossos esbranquiçados pelo luar. Em baixo, no vale, os chacais uivavam à Lua. Ainda lhe doíam as contusões e os golpes ainda sangravam. Mas não era a dor que o fazia soluçar; chorava por estar sozinho, por ter sido escorraçado, sozinho, para o mundo sepulcral dos rochedos e do luar. Sentou-se à beira do precipício. A Lua estava atrás dele; mergulhou os olhos na sombra negra da mesa, na sombra negra da morte. Tinha só que dar um passo, um pequeno salto...Estendeu a mão direita ao luar. Do golpe do pulso ainda corria sangue. Com intervalos de alguns segundos, caía uma gota, sombria, quase incolor na luz morta. Uma gota, uma gota, uma gota... «Amanhã, e amanhã, e ainda amanhã...»
Tinha descoberto o Tempo, a Morte e Deus."

Aldous Huxley in Admirável Mundo Novo

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