quarta-feira, março 22, 2006


João Ar-Puro

João Ar-Puro era o melhor amigo das águas, dos pássaros, dos peixes e das árvores de fruto. Era amigo dos camponeses e dos animais domésticos. Todos gostavam dele por ser alegre, trabalhador e saudável.
Tinha ombros largos, bochechas rosadas e mãos grandes, generosas, sempre prontas a ajudar quem estivesse triste, desamparado ou aflito.
João Ar-Puro era filho da Brisa do Mar e do Vento do Norte.
Com eles aprendera a respirar fundo o ar fresco que vem dos campos, cheirando a hortelã e a rosmaninho, a encher o peito com a aragem fria do mar, que sabe a sal, a maresia e a sonhos de viagens. (...)
João Ar-Puro nascera no País da Primavera, na Aldeia das Águas Azuis. Às cavalitas do pai ou ao colo da mãe conheceu terras distantes, outros povos e continentes, aprendeu os nomes das flores, das montanhas, dos rios e das cidades. Em todos os lugares por onde passou deixou amigos, como se semeasse plantas que duram a vida inteira.
João Ar-Puro sabia que a Natureza andava preocupada, inquieta, que acordava por vezes sobressaltada a meio da noite.
- "Não gosto de te ver assim. Gostava de saber o que te preocupa" - disse ele à Natureza, que era uma mulher sem idade, com grandes olhos verdes da cor do mar de Setembro e longos cabelos de prata fina.
- "Ando preocupada porque todos os dias me chegam notícias de que os meus filhos sofrem."
- "Os teus filhos?" - apressou-se joão a perguntar.
- "Sim, os meus filhos - insistiu ela - , os peixes, as águas, as árvores, os pássaros. Sei que sofrem com os fumos das fábricas nas grandes cidades, com o óleo que deitam nas águas azuis do mar, com os ruídos das buzinas e das sirenes, com o lixo que lançam nas praias e na relva fresca dos jardins públicos, com as coisas estragadas que lhes dão para comer, para beber e para cheirar." Parou um instante para suspirar e continuou:
- "Com todo o mal que lhes fazem, eles adoecem e às vezes morrem. Mesmo que nada disso lhes aconteça, andam tristes por verem os seus irmãos a sofrer e eu, claro, sofro com eles, sinto o que eles sentem e gostava de os ajudar, mas acho que nada posso fazer."

José Jorge Letria, in João Ar-Puro no País do Fumo

Libertem as vossas consciências, por momentos deixem de ser egoístas... AJUDEM a NATUREZA a SORRIR!

Dia Mundial da Água



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