sexta-feira, março 31, 2006


Porquê preferir os Gatos aos Homens...

Os Gatos não se sentem ameaçados se ganhares mais do que ele.
Os Gatos não têm problemas em demonstrar afecto em público.
Os Gatos não gostam de cerveja.
Os Gatos não criticam os teus amigos.
Os Gatos não se sentem ameaçados pela tua inteligência.
Os Gatos não praticam a morte da sua própria espécie.
Os Gatos não se preocupam se fores tu a guiar.
Os Gatos não necessitam de desculpas.
Os Gatos não se gabam sobre com quem já dormiram.
Os Gatos não lêem o jornal à mesa.
Os Gatos não corrigem o que dizes.
Os Gatos não precisam de terapia para desfazer a má sociabilização.
Os Gatos sentem de verdade quando te "beijam".
Os Gatos sentem a tua falta quando te vais embora.



quinta-feira, março 30, 2006


" (...) Sozinho, fora do pueblo, na planície nua da mesa. O rochedo assemelhava-se a ossos esbranquiçados pelo luar. Em baixo, no vale, os chacais uivavam à Lua. Ainda lhe doíam as contusões e os golpes ainda sangravam. Mas não era a dor que o fazia soluçar; chorava por estar sozinho, por ter sido escorraçado, sozinho, para o mundo sepulcral dos rochedos e do luar. Sentou-se à beira do precipício. A Lua estava atrás dele; mergulhou os olhos na sombra negra da mesa, na sombra negra da morte. Tinha só que dar um passo, um pequeno salto...Estendeu a mão direita ao luar. Do golpe do pulso ainda corria sangue. Com intervalos de alguns segundos, caía uma gota, sombria, quase incolor na luz morta. Uma gota, uma gota, uma gota... «Amanhã, e amanhã, e ainda amanhã...»
Tinha descoberto o Tempo, a Morte e Deus."

Aldous Huxley in Admirável Mundo Novo

quarta-feira, março 29, 2006




Arabela
abria a janela.

Carolina
erguia a cortina.

E Maria
olhava e sorria:
"Bom Dia!"

Arabela
foi sempre a mais bela.
Carolina,
a mais sábia menina.
E Maria
apenas sorria:
"Bom Dia!"

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.

Mas a nossa profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
"Bom Dia!"

Cecília Meireles

terça-feira, março 28, 2006


Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Não conhece nem dó nem ré,
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças
e também quer dormir como as outras crianças.

Cecília Meireles

Brincar, Brincar, Brincar...

Um Menino:
Brincar, brincar, brincar, brincar,
Se isto não é ter que fazer
O que é ter que fazer?

Outro Menino:
Ter que correr, que pular,
Jogar às escondidas, à bola,
ir à escola, vir da escola,
colar, pintar, desenhar,
ler livros, ver televisão...

Outro:
Os brinquedos são tantos e tão
difíceis de contentar!

Outro Ainda:
A brincadeira mais tonta,
o jogo menos complicado,
requerem tanto cuidado,
dão tanto que fazer de conta!

O Segundo Menino outra vez:
O cão a sério roeu
o cãozinho de brincar,
a boneca que fala deixou de falar,
o sempre-em-pé está caído no chão,
o carro de corda não anda nem de empurrão,
o Cavaleiro Andante pôs-se a andar,
os 7 Anões só já são 1 Anão,
desapareceu a ponteira do pião,
a bola apareceu furada,
o Faz-Tudo já não faz nada,
o pato de plástico já não tem patas
(o cão a sério, a brincar, arrancou-lhas),
metade dos livros só tem metade das folhas
e a outra metade só tem capas....

Todos:
A brincadeira mais tonta,
o jogo menos complicado,
requerem tanto cuidado,
dão tanto que fazer de conta!

Manuel António Pina

Dia Mundial do Teatro



segunda-feira, março 27, 2006


Procura-se um Amigo...

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, do passáro, do sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor... Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredos sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescendível que seja de segunda. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objectivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira da estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Vinicius de Moraes


Alguém quer se meu AMIGO?



Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a magóa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face numa outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu foi eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei a minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinicius de Moares




sábado, março 25, 2006


Uma voz no Vento
Chama o azul do dia
Doce perfume, canção
Uma voz no Tempo
Resiste na noite
E as lágrimas fogem de ti

Uma voz no Vento
Uma voz me chama
Brisa de Amor
Doce coração
Uma voz no Tempo
Carinho na alma
E as lágrimas fogem de ti

Se quem chegou partiu
Se quem virá já foi
Só para quem fica
Os dias são todos iguais
Mil sonhos para enterrar
Ventos e vendavais
Corpo e alma vergam
Se os anos pesam demais
No Coração

Uma voz no Vento
chama o azul do dia
Doce perfume, canção
Uma voz no tempo
Resiste na noite
E as lágrimas fogem de ti
E as lágrimas fogem de mim
E um rio se forma de nós.

Marcus Viana


sexta-feira, março 24, 2006


Fogo, luz dos canhões, dos trovões,
Luz do sangue, do rubro céu

Fogo, luz das paixãos, dos rios de vulcões
Que desaguam no coração

Sigo os passos do herói sobre a terra
Sigo os passos do homem bom
O teu rastro é bandeira de guerra
Minha casa, minha lei, minha fé

Teu amor me arrasta perdida
Nave solta no imenso mar
Peleando batalhas e vidas
Nascidas para te encontrar

Fogo, luz que incendeia os corações
De guerreiros e amantes vem

Fogo, luz das estrelas distantes
Dessa terra de homens vem.

Marcus Viana

quinta-feira, março 23, 2006


As lentas nuvens fazem sono,
O céu azul faz bom dormir.
Bóio, num íntimo abandono,
À tona de não me sentir.

E é suave, como um correr de água,
O sentir que não sou alguém,
Não sou capaz de peso ou mágoa.
Minha alma é aquilo que não tem.

Que bom, à margem do ribeiro

Saber que é ele que vai indo...
E só em sono eu vou primeiro.
E só em sonho eu vou seguindo.


quarta-feira, março 22, 2006


João Ar-Puro

João Ar-Puro era o melhor amigo das águas, dos pássaros, dos peixes e das árvores de fruto. Era amigo dos camponeses e dos animais domésticos. Todos gostavam dele por ser alegre, trabalhador e saudável.
Tinha ombros largos, bochechas rosadas e mãos grandes, generosas, sempre prontas a ajudar quem estivesse triste, desamparado ou aflito.
João Ar-Puro era filho da Brisa do Mar e do Vento do Norte.
Com eles aprendera a respirar fundo o ar fresco que vem dos campos, cheirando a hortelã e a rosmaninho, a encher o peito com a aragem fria do mar, que sabe a sal, a maresia e a sonhos de viagens. (...)
João Ar-Puro nascera no País da Primavera, na Aldeia das Águas Azuis. Às cavalitas do pai ou ao colo da mãe conheceu terras distantes, outros povos e continentes, aprendeu os nomes das flores, das montanhas, dos rios e das cidades. Em todos os lugares por onde passou deixou amigos, como se semeasse plantas que duram a vida inteira.
João Ar-Puro sabia que a Natureza andava preocupada, inquieta, que acordava por vezes sobressaltada a meio da noite.
- "Não gosto de te ver assim. Gostava de saber o que te preocupa" - disse ele à Natureza, que era uma mulher sem idade, com grandes olhos verdes da cor do mar de Setembro e longos cabelos de prata fina.
- "Ando preocupada porque todos os dias me chegam notícias de que os meus filhos sofrem."
- "Os teus filhos?" - apressou-se joão a perguntar.
- "Sim, os meus filhos - insistiu ela - , os peixes, as águas, as árvores, os pássaros. Sei que sofrem com os fumos das fábricas nas grandes cidades, com o óleo que deitam nas águas azuis do mar, com os ruídos das buzinas e das sirenes, com o lixo que lançam nas praias e na relva fresca dos jardins públicos, com as coisas estragadas que lhes dão para comer, para beber e para cheirar." Parou um instante para suspirar e continuou:
- "Com todo o mal que lhes fazem, eles adoecem e às vezes morrem. Mesmo que nada disso lhes aconteça, andam tristes por verem os seus irmãos a sofrer e eu, claro, sofro com eles, sinto o que eles sentem e gostava de os ajudar, mas acho que nada posso fazer."

José Jorge Letria, in João Ar-Puro no País do Fumo

Libertem as vossas consciências, por momentos deixem de ser egoístas... AJUDEM a NATUREZA a SORRIR!

Dia Mundial da Água



terça-feira, março 21, 2006



As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas maõs nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

Porque hoje é também o Dia Mundial da Poesia...


A Árvore

Era uma vez - em tempos muito antigos, no arquipélago do Japão - uma árvore enorme que crescia numa ilha pequenina.
Os japoneses têm um grande amor e um grande respeito pela Natureza e tratam todas as árvores, flores, arbustos e musgos com o maior cuidado e com um constante carinho.
Assim o povo dessa ilha sentia-se tão feliz e orgulhoso por possuir uma árvore tão grande e tão bela. Em nenhuma outra ilha do Japão, nem nas maiores, existia outra árvore tão grande. Até os viajantes que por ali passavam diziam que mesmo na Coreia e na China nunca tinham visto uma árvore tão alta, com a copa tão frondosa e bem formada.
E, nas tardes de Verão, as pessoas vinham sentar-se debaixo da larga sombra e admiravam a grossura rugosa e bela do tronco, maravilhavam-se com a leve frescura da sombra, o suspirar da brisa entre as folhagens perfumadas.
Assim foi durante várias gerações.
Mas com o passar do tempo surgiu um problema terrível e por mais que todos meditassem e discutissem ninguém era capaz de arranjar uma boa solução.
Porque, ao longo dos anos, a árvore tinha crescido tanto, os seus ramos tinham-se tornado tão compridos, a sua folhagem tão espessa e a sua copa tão larga que, duarante o dia, metade da ilha ficava sempre à sombra.
De maneira que metade das casas, das ruas, das hortas e dos jardins nunca apanhava sol.
E, na metade ensombrada, as casas estavam a ficar húmidas, as ruas tinham-se tornado tristes, as hortas já não davam legumes, os jardins já não davam flor. E a gente que ali morava andava sempre pálida e constipada.
E, à medida que a sombra da árvore crescia, crescia também a perturbação.
As pessoas gemiam:
- Que havemos de fazer? Que havemos de fazer?

Sophia de Mello Breyner Anderson, in A Árvore

Porque hoje é o Dia da Árvore...


Porque hoje começa a Primavera...

segunda-feira, março 20, 2006


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se do triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinicius de Moraes

O que passou e o que virá
Se irmanam em cruz no coração
Pois quem ardeu ao sol de uma paixão
Sabe renascer das cinzas da solidão

Deixa eu te tomar entre os braços
E ir ao jardins do céu, que o arcanjo zelou
Quero ouvir romanças dos lábios teus
Como flores que o tempo não levará, porque não são daqui.

Marcus Viana






domingo, março 19, 2006


Papoilas em julho

Pequenas papoilas, pequenas chamas infernais,
sois inofensivas?

Estremeceis. Não posso tocar-vos.
Ponho as minhas mãos por entre as chamas. Mas nada
queima.

E fico exausta quando vos vejo
estremecer assim, pregueadas e rubras como a pele da
boca.

Uma boca há pouco ensanguentada.
Pequenas orlas de sangue!

Há nela um fumo que não consigo tocar.
Onde está o vosso ópio, as vossas cápsulas nauseabundas?

Se eu pudesse esvaiar-me em sangue ou dormir!...
Se a minha boca conseguisse desposar uma tal ferida!

Ou os vossos licores me penetrassem, nesta cápsula de
vidro,
trazendo-me a acalmia e o silêncio.

Mas sem cor. Sem nenhuma cor.

Sylvia Plath


sábado, março 18, 2006

O que resta de nós...

Uma folha em branco com um futuro por escrever e com um passado para recordar...
Um seco suspiro por cada momento em que sinto hoje que apenas queria voltar atrás,
ser aquilo que não fui, dar-te tudo aquilo que não dei.
Viver o que não vivi!
Queria que sentisses as cores com que pintei o nosso mundo, as formas com que moldei cada dia...
A cada segundo que passa solta-se um pedaço do que sinto,
uma estranha forma de vida, deixar morrer aquilo por que vivo.
Só uma lágrima faz sentir o insensível, um só sorriso faz sentir o desejo!
Voltar a voar no teu olhar, sentir-me livre para correr, sorrir e amar...
Reviver contigo cada pedaço de uma história, recriar momentos que apesar de efémeros se tornam memoráveis...
Sentir as forças que nos unem , beijar os sorrisos que me fazem sentir o que sou,
Uma sublime forma de estar, um simples desejo de te amar.

Victor Leal



sexta-feira, março 17, 2006


Não preciso de me drogar para ser um génio;
não preciso ser um génio para ser humano,
mas preciso do teu sorriso para ser feliz.

Cântico do Amor

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver Amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver Amor, nada sou.
Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver Amor, de nada me aproveita.
O AMOR é paciente, o Amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O AMOR jamais passará.

Primeira Carta aos Coríntios 13,1-8)

quinta-feira, março 16, 2006


Far From Me

For you dear, I was born
For you I was raised up
For you I`ve lived and for you I will die
For you I am dying now
You were my mad little lover
In a world where everybody fucks everybody else over
You who are so far from me
Far From Me
So far from me
Way across some cold neurotic sea

I would talk to you of all matter things
with a smile you would reply
Then the sun would leave your pretty face
And you`d retreat from the front of your eyes
I keep hearing that you`re doing best
I hope your heart beats happy in your infant breast
You are So Far From Me
Far From Me
Far From Me

There is no knowledge but I know it
There`s nothing to learn from that vacant voice
That sails to me across the line
From the ridiculous to the sublime
It`s good to hear you`re doing so well
But really can`t find somebody else that you can ring an tell
Did you ever
Care for me?
Were you ever
There for me?
So Far From Me

You told me you`d stick by me
Through the thick and through the thin
Those were your very words
My fair-weather friend
You were my brave-hearted lover
At the first taste of trouble went running back to mother
So Far From Me
Far From Me
Suspended in your bleak and fishless sea
Far From Me
Far From Me


Words and music by Nick Cave





Chegou o tempo...
Chegou o tempo de fechar as mãos,
De recolher as dádivas e dar:

Pra quê bramir no peito o coração,
inflorar a tristeza, encaminhar
quedas no precipício, no vazio,
insculpir vozes que não têm som,

em terra seca libertar sementes...

Pra quê por outros ter os desafios,
Aveludar angústias, dores, com
Sorrisos entre os lábios permanentes?

Chegou o tempo de me despedir
e adormecer nos brados do cansaço:
serenamente os dias a provirem
alheios à jornada dos meus passos.

António Salvado

quarta-feira, março 15, 2006


A Alma abandona o corpo,
como um menino salta da escola
com a alegria eterna
de sair da sala de aula.

terça-feira, março 14, 2006


Hoje o céu está mais azul,
Eu sinto...
Fecho os olhos.
Mesmo assim eu sinto...
O meu corpo a estremecer
Não consigo adormecer.

Nem o tempo vai chegar
Para dizer o quanto eu sinto
Você longe de mim
É uma espécie de dor...

Hoje o céu está mais azul,
Eu sinto...
Olho à volta
E mesmo assim eu sinto
Que este amor vai acabar
e a saudade vai voltar...

Já não sei o que esperar
Desta vida fugidia...
Não sei como explicar
Mas é mesmo assim o Amor.







segunda-feira, março 13, 2006


"(...)Só quando somos adultos, porventura quando nós próprios temos filhos, compreendemos inteiramente que os nossos pais tiveram uma existência cheia e complexa antes de nascermos. Ele conhecia apenas contornos e pormenores de histórias - a sua mãe num armazém-geral, gabada pela perfeição do laço que conseguia fazer atrás das costas; e o seu pai a caminhar por uma cidade em ruínas na Alemanha, ou a atravessar a pista de um aeródromo para dar a notícia oficial da vitória ao comandante de esquadrilha. Mesmo quando as suas histórias começavam a dizer-lhe respeito, Stephen não sabia, a bem dizer, nada da maneira como os pais se tinham conhecido, do que os atraíra um para o outro, como tinham decidido casar, ou como ele surgira. É difícil sair do momento num dado dia qualquer e fazer a pergunta essencial desnecessária, ou compreender que, por muito familiares que sejam, os pais são também desconhecidos para os seus filhos. (...)"

Ian Mc Ewan in A Criança no Tempo

domingo, março 12, 2006


Não faças do amanhã o sinónimo do nunca,
nem o ontem te seja o mesmo que nunca mais.
Teus passos ficaram.
Olha para trás... mas vai em frente
pois há muitos que precisam
que chegues para poderem seguir-te.

Charlie Chaplin

sábado, março 11, 2006



Ada, her nine year old daughter and her piano arrive to an arranged marriage in the remote bush of nineteenth century New Zealand. Of all her belongings, her husband refuses to transport the piano and it is left behind on the beach.
Unable to bear its certain destruction, Ada strikes a bargain with an illiterate tatooed neighbour. She may earn her piano back if she allows him to do certain things while she plays; one black key for every lesson. The arrangement draws all three deeper and deeper into a complex emotional, sexual bond remarkable for it`s naive passion and frightening disregard for limits
.



In composing the score for The Piano the priority was to write Ada`s music - a repertoire that she carried with her wherever she went - music she had a created, not learned.
Consequently, with the help of the script, and especially Holly Hunter`s intensity as both actress and pianist - I began to build a folio of pieces that I had imagined she had in her head, in her fingers, in her body. Initially I was unsure
how to pitch the style. But once I had the perception that since Ada was from Scotland, it was logical to use Scottish folk and popular songs as the basis of the music. The tone an language of the score then fell into place.
It`s as though I had to write the music of a woman composer who happened to live in Scotland, then New Zealand in the mid-eighteen fifties. Someone who was obviously not a professional composer or pianist, so there had to be a modesty to it.

Since Ada doesn`t speak her piano music substitutes for her voice, is her voice. The sound of the piano becomes her character, her mood, her expressions, her unspoken dialogue, her body language. It has to convery the messages she is putting across about her fellings toward Baines during the piano lessons, and these differ from lesson to lesson as the relationship, the state of sexual bargaining and passion, develop. Ada`s music is described by one of the characters in the film as "like a mood that passes trough you...a sound that creeps into you".

The piano music came first, and helped to define the orchestral score.

Michael Nyman

Cada pessoa que passa pela nossa vida, passa sozinha,
porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra.
Cada pessoa que passa pela nossa vida passa sozinha, e não nós deixa só,
porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós.
Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova
de que as pessoas não se encontram por acaso.


Charlie Chaplin

Preciso de Alguém

"Que me olhe nos olhos quando falo.
Que ouça as minhas tristezas e neuroses com paciência.
E, ainda que não compreenda, respeite os meus sentimentos.
Preciso de alguém, que venha brigar ao meu lado sem precisar ser
convocado;
alguém Amigo o suficiente para dizer-me as verdades que não quero ouvir,
mesmo sabendo que posso odiá-lo por isso.

Neste mundo de cépticos, preciso de alguém que creia,
nessa coisa misteriosa, desacreditada, quase impossível: A Amizade.
Que teime em ser leal, simples e justo, que não vá embora se algum dia eu
perder o meu ouro e não for mais a sensação da festa.
Preciso de um Amigo que receba com gratidão o meu auxílio, a minha mão estendida.
Mesmo que isto seja muito pouco para as suas necessidades.

Preciso de um Amigo que também seja companheiro, nas farras e pescarias,
nas guerras e alegrias, e que no meio da tempestade, grite em coro comigo:
`Nós ainda vamos rir muito disto tudo`e ria muito.
Não pude escolher aqueles que me trouxeram ao mundo, mas posso escolher meu Amigo.
E nessa busca empenho a minha própria alma, pois com uma Amizade Verdadeira,
a vida se torna mais simples, mais rica e mais bela."


Cristiana Passinato



quinta-feira, março 09, 2006


" (...) De repente deixamos de ser actores e passamos a espectadores da peça. Ou antes, somos ambas as coisas. Observamo-nos, e todo o encanto do espectáculo nos arrebata. No caso presente, o que é que realmente aconteceu? Alguém matou por amor de ti. Quem me dera alguma vez ter vivido uma experiência semelhante. Ter-me-ia apaixonado pelo amor para o resto da minha vida. As pessoas que me adoraram... não houve assim muitas, mas houve algumas... insistiram sempre em continuar vivas muito depois de eu ter deixado de me interessar por elas, ou elas de se interessarem por mim. Ficam gordas e enfadonhas e sempre que as encontro repescam todas as lembranças. A terrível memória de uma mulher! Que coisa medonha. E que incrível estagnação intelectual revela! Devemos absorver a cor da vida, mas não devíamos nunca recordar os seus pormenores. Os pormenores são sempre ordinários. (...)"

Oscar Wilde in O Retrato de Dorian Gray

"(...) Poucos de nós se podem gabar de nunca ter acordado antes da aurora, seja depois de uma dessas noites sem sonhos que quase nos fazem enamorar pela morte, ou depois dessas noites de horror e repulsivo prazer, em que as galerias do cérebro engendram fantasmas mais terríveis do que a própria realidade, animados da vida feroz que caracteriza tudo o que é grotesco, e que confere à arte gótica a sua permanente vitalidade, sendo essa arte, cremos nós, específica daqueles cujas mentes foram perturbadas pela demência do devaneio. Dedos brancos infiltram-se gradualmente pelas cortinas, sombras mudas rastejam pelos cantos do quarto e aí se aninham. Lá fora, os pássaros agitam-se por entre as folhas, ou ouvem-se os homens dirigirem-se ao trabalho, ou os soluços e suspiros do vento que desce as montanhas e contorna a casa silenciosa, como se temesse acordar os adormecidos e que, todavia, tem inevitavelmente de despertar o sono da sua púrpura caverna. Véu após véu se descobre a fina gaze do crepúsculo e as coisas recuperam lentamente a sua forma e cor, e contemplamos a aurora refazendo o mundo no seu molde antigo. Os espelhos lacustres retomam a sua vida de imitação. As velas apagadas estão onde as deixámos, e junto delas repousa o livro que estivemos a ler, ainda com páginas por cortar, ou a flor armada que usámos no baile, ou a carta que temos receado ler, ou que lemos demasiadas vezes. Nada nos parece alterado. Das sombras irreais da noite irrompe a vida real que sempre conhecemos. Temos de a reatar onde a abandonámos, e apodera-se de nós uma terrível consciência da necessidade de continuarmos a despender energia na mesma estafada rotina de hábitos estereotipados, ou um louco desejo, por vezes, de que numa bela manhã as nossas pálpebras se abram para um mundo em que as coisas terão novas formas e cores, e se acharão mudadas, ou terão outros segredos, um mundo em que o passado será de somenos ou mesmo nulo, ou pelo menos não subsista em qualquer forma consciente de compromisso ou remorso, visto que até a lembrança da alegria tem um travo amargo, e as memórias do prazer são dolorosas. (...)."


Oscar Wilde in O Retrato de Dorian Gray

quarta-feira, março 08, 2006


Homem que vens de humanas desventuras,
Que te prendes à vida e te enamoras,
Que tudo sabes e que tudo ignoras,
Vencido herói de todas as loucoras;

Que te debruças pálido nas horas
Das tuas infinitas amarguras
E na ambição das coisas mais impuras
És grande simplesmente quando choras;

Que prometes cumprir e que te esqueces,
Que te dás à virtude e ao pecado,
Que te exaltas e cantas e aborreces,

Arquitecto do sonho e da ilusão,
Ridículo fantoche articulado
Eu sou teu camarada e teu irmão.

António Botto

terça-feira, março 07, 2006


O Silêncio

Dos corpos esgotados que silêncio
tão apaziguador se levantava!

(Tinha uma rosa triste nos cabelos,
uma sombra na túnica de luz...)

Para o fundo das almas caminhava,
devagar, o sonâmbulo silêncio.

(Que apertados anéis nos braços nus!)

Mas o silêncio vinha desprendê-los.

David Mourão-Ferreira

segunda-feira, março 06, 2006

Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.

Sophia de Mello Breyner

quinta-feira, março 02, 2006


O artista é o criador de coisas belas.
Revelar a arte e ocultar o artista é o objectivo da arte.
O crítico é aquele que consegue traduzir de outro modo ou em novo material a sua impressão das coisas belas.
A mais elevada, como a mais medíocre, forma de crítica é uma expressão autobiográfica.
Os que encontram significados disformes em coisas belas são corruptos sem agradarem, o que é um defeito.
Os que encontam belos significados em coisas belas são os cultos. Para esses há esperança.
São os eleitos para quem as coisas belas apenas significam Beleza.
Não existem livros morais ou imorais. Os livros são mal ou bem escritos. É tudo.
A antipatia do século XIX pelo realismo é a raiva de Caliban ao ver a sua cara ao espelho.
A antipatia do século XIX pelo romantismo é a raiva de Caliban por não ver a sua cara no espelho.
A vida moral do homem é assunto para o artista, mas a moralidade da arte consiste na perfeita utilização de um meio imperfeito. Um artista não quer provar coisa alguma. Até as coisas verdadeiras podem ser provadas.
Um artista não tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um maneirismo de estilo imperdoável.
Um artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
Para o artista, o pensamento e a linguagem são instrumentos de uma arte.
Para o artista, o vício e a virtude são matéria de uma arte.
Do ponto de vista formal, o modelo de todas as artes é a arte do músico. Do ponto de vista sentimental, o trabalho do actor é o modelo.
Toda a arte é simultaneamente superfície e símbolo.
Os que lêem o símbolo fazem-no a suas próprias expensas.
O que a arte espelha realmente é o espectador e não a vida.
A diversidade de opinião sobre uma obra de arte revela que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos divergem, o artista está em consonância consigo próprio.
Podemos perdoar um homem que faça uma coisa útil desde que não a admire. A única desculpa para fazer uma coisa inútil é ser objecto de intensa admiração.
Toda a arte é perfeitamente inútil.