domingo, abril 23, 2006


Num banco de névoas calmas quero ficar enterrado,
Num casebre se bambú na minha esteira deitado,
A fumar um narguilé até que passe a monção
Enquanto a chuva derrama a sua triste canção.
Sei que tenho de partir logo que suba a maré,
Mas até ela subir volto a encher o narguilé.
Meu capitão já é hora de partir e levantar ferro
Não me quero ir embora diga que foi ao meu enterro.
Deixem-me ficar deitado a ouvir a chuva cair,
Que ainda estou acordado só tenho a alma a dormir,
Como a folha de bambú a deslizar pela corrente,
Apenas presa ao mundo por um fio de água morrente.
Nos arrozais morre a chuva, noutra água há-de nascer
Abatam-me ao efectivo também eu vou sem morrer.
Para quê ter de partir logo que passe a monção,
Se encontrei toda a fortuna no lume deste morrão.
Ópio bendito ópio, minhas feridas mitiguei
Meu bálsamo para a dor do ser
Em ti me embalsamei
Ópio maldito ópio, foi para isto que cheguei
Uma pausa no caminho
Numa névoa me tornei.

Para os meus VERDADEIROS AMIGOS


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