sábado, abril 29, 2006


In this little town
Cars they dont`t slow down
The lonely people here
They throw lonely stares
Into their lonely hearts

I watch the traffic lights
I drift on Christmas nights
I wanna set it straight
I wanna make it right
But girl you`re so far away

Oh, hold still for a moment and i will find you
I am so close, I am just a small step behind
you girl
And i could hold you if you just stood still

I jaywalk through this town
I drop leaves on the ground
But lonely people here
Just gaze their eyes on air
And miss the autumn roar
I roam through traffic lights
I fade trough Christmas nights
I wanna set it straight
I wanna make it right
But man you`re so far away

Oh, I will hold still for a moment so you wil
find me
You`re so close, I can fell ypu all around
me boy
I know you`re somewhere out there
I know you`re somewhere out there

sexta-feira, abril 28, 2006


O Alquimista pegou num livro que alguém na caravana tinha trazido. O volume estava sem capa, mas conseguiu identificar o seu autor: Oscar Wilde.
Enquanto folheava as suas páginas, encontrou uma história sobre Narciso.
O Alquimista conhecia a lenda de Narciso, um belo rapaz que todos os dias ia contemplar a sua própria beleza num lago. Estava tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado. No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que chamaram de narciso.
Mas não era assim que Oscar Wilde acabava a história. Ele dizia que quando Narciso morreu, vieram as Oréiades - deusas do bosque - e viram o lago transformado, de um lago de água doce, num cântaro de lágrimas salgadas.
- Por que choras? - perguntaram as Oréiades.
- Choro por Narciso - disse o lago.
- Ah, não nos espanta que chores por Narciso - continuaram elas. - Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, tu eras o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto a sua beleza.
- Mas Narciso era belo? - perguntou o lago.
- Quem mais do que tu poderia saber disso? - responderam, surpresas, as Oréiades. - Afinal de contas, era nas tuas margens que se debruçava todos os dias.
O lago ficou algum tempo silencioso. Por fim, disse:
- Eu choro por Narciso, mas nunca tinha percebido que Narciso era belo.
"Choro por Narciso, porque todas as vezes que ele se debruçava sobre as minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza reflectida.

- Que bela história - disse o Alquimista.

Paulo Coelho in O Alquimista

It is right in front of you
The longest road for you to walk trough
If is the place to start
Then go, follow your heart

quinta-feira, abril 27, 2006


Nossa Senhora, com o Menino Jesus, nos braços, resolveu descer à terra e visitar um mosteiro. Orgulhosos, todos os padres fizeram uma grande fila, e cada um se apresentava diante da Virgem para prestar a sua homenagem. Um declamou belos poemas, outro mostrou as suas iluminuras para a Bíblia, um terceiro disse o nome de todos os santos. E assim por diante, monge após monge, cada um homenageou Nossa Senhora e o Menino Jesus.
No último lugar da fila, havia um padre, o mais humilde do convento, que nunca tinha aprendido os sábios textos da época. Os seus pais eram pessoas simples, que trabalhavam num velho circo das redondezas, e tudo o que lhe tinham ensinado era atirar bolas para o ar e a fazer alguns malabarismos.
Quando chegou a sua vez, os outros padres quiseram encerrar as homenagens, porque o antigo malabarista não tinha nada de importante para dizer e podia desmoralizar a imagem do convento. Entretanto, no fundo do seu coração, também ele sentia uma imensa necessidade de dar alguma coisa de si a Jesus e à Virgem.
Envergonhado, sentindo o olhar reprovador dos seus irmãos, tirou algumas laranjas do bolso e começou a atirá-las ao ar, fazendo malabarismos, que era a única coisa que sabia fazer.
Foi só nesse instante que o Menino Jesus sorriu, e começou a bater palmas no colo de Nossa Senhora.
E foi para esse padre que a Virgem estendeu os braços, deixando que ele segurasse um pouco o menino.

Paulo Coelho in O Alquimista

domingo, abril 23, 2006


Num banco de névoas calmas quero ficar enterrado,
Num casebre se bambú na minha esteira deitado,
A fumar um narguilé até que passe a monção
Enquanto a chuva derrama a sua triste canção.
Sei que tenho de partir logo que suba a maré,
Mas até ela subir volto a encher o narguilé.
Meu capitão já é hora de partir e levantar ferro
Não me quero ir embora diga que foi ao meu enterro.
Deixem-me ficar deitado a ouvir a chuva cair,
Que ainda estou acordado só tenho a alma a dormir,
Como a folha de bambú a deslizar pela corrente,
Apenas presa ao mundo por um fio de água morrente.
Nos arrozais morre a chuva, noutra água há-de nascer
Abatam-me ao efectivo também eu vou sem morrer.
Para quê ter de partir logo que passe a monção,
Se encontrei toda a fortuna no lume deste morrão.
Ópio bendito ópio, minhas feridas mitiguei
Meu bálsamo para a dor do ser
Em ti me embalsamei
Ópio maldito ópio, foi para isto que cheguei
Uma pausa no caminho
Numa névoa me tornei.

Para os meus VERDADEIROS AMIGOS


sábado, abril 22, 2006


Esperança...

sexta-feira, abril 21, 2006


A Solidão apossou-se de mim,
e a saudade da tua ausência
mergulha a cada suspiro do meu ser.

quarta-feira, abril 19, 2006


Não consigo parar de pensar!
É impossível esquecer!
Tu moras em mim.
Mesmo se eu quisesse,
Não poderia.
Tu moras em mim.
Fatalmente,
Não teria como te expulsar.
Porque um dia,
Tu invadis-te o meu corpo,
Acomodaste-te dele inteiro,
E tornaste-te dono de mim.
Agora, não te consigo esquecer.
Quero acreditar que seja um sonho...
Ou seria fantasia, fascínio, paixão,
Loucura talvez...?!
Não sei. Tudo o que sei é que tu moras em mim.
Como eu queria esquecer-te!...
Se pelo menos, eu pudesse esquecer
O teu olhar,
O calor da tua boca,
O conforto do teu corpo,
As tuas mãos,
O teu jeito de falar,
A tua voz...
Essa voz que um dia me chamou de "Meu Amor"...
Esse sorriso lindo!...
É impossível esquecer-te!...
Se ao menos a morte me tomasse o corpo...
Talvez assim,
Eu pudesse esquecer este imenso amor
Que me consume,
Tortura,
Magoa,
Corrompe,
Corrói.
É cruel viver esta realidade!
Tu, és o meu eterno companheiro,
Mas, mesmo assim,
Eu sou só...
Melancolia,
Tristeza,
Solidão...
Pois, não te tenho.
E sem ti,
Não percebo as cores,
Não sinto o calor do sol,
Nem o perfume das flores,
O brilho da lua,
O cheiro da chuva, do mar...
Sem ti...
A minha vida não tem sentido,
Não tem horizontes,
Sem ti,
É inútil viver...

Para ti...








terça-feira, abril 18, 2006


Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida de um lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

segunda-feira, abril 17, 2006


Nada sou nesse mundo...
Nada possuo...
Nada tenho...
Nada quero...

Minhas lágrimas servem-me de mantimento...
Minha respiração de nada mais tem sentido...
Meu céu se enegreceu...
A luz apagou...
As trevas tomaram conta de mim...

E eu não me consegui segurar e caí...
E a morte me levou...
Levou o meu abatido coração...
Que teimava em pulsar pelo amor...
Que insistia em querer-te...

Não posso mais senti-lo dentro de mim...
Não quero sofrer...
Mas neste momento um enorme vazio toma conta de mim...
E uma angústia interminável me domina...

Não sei mais onde recorrer...

Quando sonhei contigo, senti o sonho vivo
Não doeu, não sofri...apenas sonhei
Correu livre a vontade, de dizer
De sentir
De viver de novo o passado
Neste presente inexistente
No qual já não somos,
Permanecemos
Insistindo numa existência sem sentido
Para qual o fim já aconteceu
E eu recuso a reconhecê-lo
Quando sonho contigo, sinto o sonho vivo
Sinto ainda vivo em mim
Não dói, não sofro...apenas sonho
Corre livre a vontade, de dizer
De sentir
De viver de novo o passado
Neste presente que nego
A tua ausência,
Permaneço
Insistindo num sentimento acabado
Para o qual espero o recomeço
E recuso esquecer-te...
Quando sonhar contigo, sentirei o sonho vivo
Não irá doer, não irei sofrer...apenas sonharei
Correrá livre a vontade, de dizer
De sentir
De viver de novo o passado
Num presente que irei negar
Ainda a tua ausência,
Ficarei
Insistindo na existência de um sentimento por terminar
Para o qual viverei
Sempre na esperança de outro sonho alimentar.


sábado, abril 15, 2006


Quem não sai da sua casa
Não atravessa povos, montes, vales,
Não vê as cenas bíblicas das eiras,
Nem mulheres de infusa, equilibradas,
Nem carros lentos, chiadores,
Nem homens suados,
Quem vive como o insecto cativo no seu redondel,
Cria mil olhos para nada...

Irene Lisboa

sexta-feira, abril 14, 2006


Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mais cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são outunos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...

Florbela Espanca

quarta-feira, abril 12, 2006


Minha alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É magoada, e pálida, e sombria,
Como soluços trágicos do vento!

É frágil como o sonho dum momento;
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso duma boca fria:
Minha alma é a Princesa Desalento...

Altas horas da noite ela vagueia...
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!

O luar ouve a minha alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta...

Florbela Espanca

Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chama-lá.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.

O último passo do destino,
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.

E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.

Cecília Meireles


terça-feira, abril 11, 2006


Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
Que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

Cecília Meireles


domingo, abril 09, 2006


Os dois Gatos

Dois bichanos se encontraram
Sobre uma trapeira um dia:
(creio que não foi no tempo
Da amorosa gritaria).
De um deles todo o conchego
Era dormir no borralho;
O outro em leito de senhora
Tinha mimoso agasalho.

Ao primeiro o dono humilde
Espinhas apenas dava;
Com esquisitos manjares
O segundo se engordava.

Miou, e lambeu-o aquele
Por o ver da sua casta;
Eis que o brutinho orgulhoso
De si com desdém o afasta.

Aguda unha vibrando
Lhe diz: "Gato vil e pobre,
Tens semelhente ousadia
comigo, opulento, e nobre?

Cuidas que sou como tu?
Asneirão, quanto te enganas!
Entendes que me sustento
De espinhas, ou barbatanas?

Logro tudo o que desejo,
Dão-me de comer na mão;
Tu lazeras, e dormimos
Eu na cama, e tu no chão.

Poderás dizer-me a isto
Que nunca te conheci;
Mas para ver que não minto
Basta-me olhar para ti."

"Ui! (responde-lhe o gatorro,
Mostrando um ar de estranheza)
És mais que eu? Que distinção
Pôs em nós a Natureza?

Tens mais valor? Eis aqui
A ocasião de o provar."
"Nada (acode o cavalheiro)
Eu não costumo brigar."

"Então (torna-lhe enfadado
O nosso vilão ruim)
Se tu não és mais valente,
Em que és superior a mim?

Tu não mias? - "Mio." - "E sentes
Gosto em pilhar algum rato?"
"Sim." - "E o comes?" - "Oh! Se como!..."
"Logo não passas de um gato.

Abate, pois, esse orgulho,
Intratável criatura:
Não tens mais nobreza que eu;
O que tens é mais ventura."

Manuel Maria Barbosa Du Bocage






sábado, abril 08, 2006

Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, abril 07, 2006


Mina-me no peito a saudade.
Haverá maior tormento
Que um veneno mais lento
Que turva a felicidade
Que vence a própria verdade
Que quase nos mata enfim?
Este que me fere a mim
Foi causado pela sorte
Foi cavado pela morte .
Não posso viver assim.

Fernando Pessoa

quinta-feira, abril 06, 2006

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos;
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, abril 05, 2006


Nunca
dos nossos lábios aproximaste
o ouvido; nunca
ao nosso ouvido encostaste os lábios;
és o silêncio,
o duro espesso impenetrável
silêncio sem figura.
Escutamos , bebemos o silêncio
Nas próprias mãos
E nada nos une
- nem sequer sabemos se tens nome.

Eugénio de Andrade


Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tinhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos sãos peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.

E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.


Adeus.

Eugénio de Andrade


segunda-feira, abril 03, 2006


A Viagem

O comboio vinha muito distraído a olhar para as lindas casas e seus jardins que iam ficando para trás, à beira da linha.
De repente, ficou tudo escuro e veio um frio e um cheiro que não eram de terra. Eram de baixo da terra, do subterrâneo comprido, comprido, onde umas luzinhas vermelhas, de longe a longe furando o negrume, corriam também para trás.
O comboio, por dentro, também tinha luz e podiam ver-se os passageiros uns aos outros, entre os quais um rapaz e uma rapariga, talvez dos seus nove e dez anos. Deviam ser irmãos: iam vestidos de igual, ambos de calças azuis e blusas aos quadrados; só se distinguia a rapariga porque tinha brincos nas orelhas. De vez em quando, ela levava a mão às orelhas, ora uma, ora à outra, a apalpar os ditos brincos. Decerto para se certificar de não os ter perdido.
- Vós ides-vos perder, tenho muito medo - dissera-lhes a avó, vezes sem conta, enquanto se preparavam para aquela viagem que os dois irmãos vinham fazer sozinhos, e para a qual dera o seu consentimento, embora muito contrariada e receosa.
- Não perdemos, avó, não se aflija - afirmava o Manuel, carinhosamente. - Sabemos a direcção de lá e sabemos o telefone do nosso merceeiro; telefonamos para cá a contar tudo, logo que virmos a mãe.
- A mãe e o menino - acrescentava a Manuela, sorrindo à lembrança desse irmãozinho que fora nascer longe de casa, longe deles.
Tinham tido uma grande aflição, toda a família menos o pai, ausente na Alemanha e que não podia regressar nessa altura. Contava vir mais tarde, quando se perfizessem os nove meses, data da criança nova chegar.
Mas ela, a criança, anunciara-se mais cedo. A mãe sentira-se mal, e o médico aconselhara que fosse imediatamente para um hospital na cidade, onde não faltava nada do que era preciso para receber uma criança sem tempo.
Os irmãos tinham ficado emocionadíssimos com aquilo tudo. Uma criança sem tempo, como diziam, seria diferente das outras?
E mal chegara a notícia do nascimento, não sossegaram enquanto não arrancaram à avó a autorização para partir.
O comboio parou por fim, depois de sair da escuridão do túnel.

Alice Gomes, Contos Risonhos

domingo, abril 02, 2006


Esta tarde é tua
Porque estás em mim
e estou circunscrito à tua geografia

O Sol é um advento da tua luz
Da luz do teu corpo
que a cidade traduz
em sombras no asfalto.

sábado, abril 01, 2006


Fico soturno a olhar para o mar
e a pensar num rei a traduzir Shakespeare
numa varanda embriagada pelo sol.
Deixei de ter tempo para espiritualidades,
para o engodo das tremendas interrogações,
para a altivez das perguntas sem resposta.
Fiquei temporariamente domesticado
para uma outra escrita, por um discurso
que não consente divagação ou fuga.
Normalizei-me, e contudo gosto de ver
a mão hesitante e trémula
à beira da consumação do poema
quando a maré assalta a muralha
e traz, misturados com a espuma,
os destroços das vidas que eu sonhei,
das vidas que, se calhar, eu já vivi.

José Jorge Letria in Os Mares Interiores