segunda-feira, dezembro 25, 2006
quinta-feira, dezembro 07, 2006
Drawn into a world of choices
Bitter hearts and angry voices
I'm tired of promisses constantly broken
Words are there just to be spoken
I can't comply
So I can't sit here through this mess
Acting just like all the rest
With a smile
Still
You and I we'll meet as soon this war is over
You and I we'll seize the dream
You won't be sorry
But now I have to go away
I'll save the world today
Gentle grins and perfect plans
That turn out to reveal the monsters around
The werewolves holding silver bullets
Staring at me in my nightmares
It has to stop
It's my turn to stop them
Maybe I won't win but I'll surely try
I'll try
But now I have to go away
I'm going to save the day
No surprises, farewell parties
Tears that fill your green-eyed worries
I hate goodbyes
sábado, novembro 11, 2006
É curioso como moldamos a nossa personalidade quando curiosamente nos apaixonamos. Tudo em nós é renovado e o nosso olhar volta a renascer da cinza.
Novamente, a nossa alma é iluminada por um raio tímido de sol, e voltamos a sorrir. O sorriso começa lentamente a ganhar forma. A sua forma natural. Aquela com a qual nascemos e que o tempo nos rouba.
Os dias passam a ter significado e a espera torna-se ansiosamente agradável.
Começas aos poucos a perceber um olhar de relance, que se estende na tua direcção. E logo, começas a pensar que estás a sonhar. O medo de voar, alerta em ti, o medo de puderes, também, voltar a cair.
Retrais. Mas sonhas dentro de ti. Crias ilusões. Tens esperança.
domingo, novembro 05, 2006
quarta-feira, outubro 25, 2006
sexta-feira, setembro 15, 2006
quinta-feira, julho 27, 2006
terça-feira, julho 18, 2006
terça-feira, junho 27, 2006
Ouvi só mais uma história que vos vai fazer pasmar
Eram mil e doze a bordo nas contas do escrivão
Sem contar os galináceos sete patos e um cão
Era lista mui sortida de fidalgos passageiros
Desde mulheres de má vida a padres e mesteireiros
Iam todos tão airosos com seus farneis e merendas
Mais parecia um piquenique do que a carreira das indias
Ao passarem cabo verde o mar deu em encrespar
Logo viram ao que vinham quando a nau deu em bailar
Veio a cresta do equador e o cabo da boa esperança
Onde o velho adamastor subiu o ritmo da dança
Foi tamanha a danação foi puxado o bailarico
Quem sanfonava a canção era a mão do mafarrico
Tinha morrido o piloto e em febre o capitão ardia
Encantada pela corrente para sul a nau se perdia
Subia a conta dos dias ficavam podres os dentes
Eram tantas as sangrias morriam da cura os doentes
E o cheiro era tão mau e a fé tão vacilante
Parecia que a pobre nau era o inferno de dante
Com o leme sem governo e a derrota já perdida
Fizeram auto de fé com as mulheres de má vida
E foram tirando à sorte quem havia de morrer
Para que o vizinho do lado tivesse o que comer
No céu três meninas loiras cantavam um cantochão
Todas vestidas de tule para levar o capitão
No meio do seu delírio mostrou a raça de bravo
Teve ainda força na língua para as mandar ao diabo
Neste martírio sem fim ficou o lenho a boiar
Até que um vento gelado a terra firme o fez varar
Que diria o escrivão se pudesse escrevinhar
Eram mil e doze a bordo e doze haviam de chegar
Ao grande país do gelo com mil cristais a brilhar
Onde a paz era tão branca só se quiseram deitar
Naqueles lençois de linho a plumas acolchoados
E lá dormiram para sempre como meninos cansados
Rui Veloso/Carlos Tê |
domingo, junho 25, 2006
Andava eu sem ter onde cair vivo
Fui procurar abrigo nas frases estudadas do senhor doutor
Ai de mim não era nada daquilo que eu queria
Ninguém se compreendia e eu vi que a coisa ia de mal a pior
Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar
Andava eu sózinho a tremer de frio
Fui procurar calor e ternura nos braços de uma mulher
Mas esqueci-me de lhe dar também um pouco de atenção
E a minha solidão não me largou da mão nem um minuto sequer
Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar
Se queres ver o Mundo inteiro à tua altura
Tens de olhar para fora, sem esqueceres que dentro é que é o teu lugar
E se às duas por três vires que perdeste o balanço
Não penses em descanso, está ao teu alcance, tens de o reencontrar
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar
Jorge Palma
sábado, junho 24, 2006
O meu amor tem lábios de silêncio
E mãos de bailarina
E voa como o vento
E abraça-me onde a solidão termina
O meu amor tem trinta mil cavalos
A galopar no peito
E um sorriso só dela
Que nasce quando a seu lado eu me deito
O meu amor ensinou-me a chegar
Sedento de ternura
Sarou as minhas feridas
E pôs-me a salvo para além da loucura.
O meu amor ensinou-me a partir
Nalguma noite triste
Mas antes, ensinou-me
A não esquecer que o meu amor existe.
Jorge Palma
Jorge
Agarras-te à hora
Em que o tempo não passou
Mergulhas nas cores
Que a loucura te emprestou
E quando te vês para lá do espelho
Encontras a solidão
Descobres o Mundo
De quem tem pouco a perder
E sobes às estrelas
Que ontem não podias ver
E perdes o medo de estar só
No meio do multidão
Tradições
Atrás de contradições
Fizeram-te abrir os olhos
Podes dizer:
Eu... sou
Jorge Manuel d’Abreu Palma
sexta-feira, junho 23, 2006
Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstâncial
De montanha e distância.
Leoa do Senhor como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco
Afunda e passa, irmão
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.
Sementes
De olhos negros lançam escuros
Anzóis...
Negro, doce sangue na boca,
Sombra,
Um outro vôo
Me arrasta pelo ar...
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas.
E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança
Escorre pela parede.
E eu
Sou a flecha,
O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho
Vermelho, caldeirão da manhã.
Sylvia Plath
quarta-feira, junho 21, 2006
Foi vento ou ocasião que a trouxe?
Não sei: a luz se nos velou
Como se luz a sombra fosse.
Às vezes, quando a vida passa
Por sobre a alma que é ninguém,
A sensação torna-se baça
E pensar é não sentir bem.
Sim, é como isto: pelo céu
Vai uma nuvem destroçada
Que é véu, mau véu, ou quase véu,
E, como tudo, não é nada.
Fernando Pessoa
terça-feira, junho 20, 2006
Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill
domingo, junho 18, 2006
Poema do Homem Só
Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.
sexta-feira, junho 16, 2006
O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")
sábado, junho 10, 2006
Amor, que o gesto humano na alma escreve
Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.
A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.
Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.
Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.
Luís de Camões
terça-feira, maio 23, 2006
Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p'ra ti
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer
Zeca Afonso
segunda-feira, maio 22, 2006
Disseste que vinhas
E não chegaste
Mudaste de planos, ok
Mas isso deitou-me tão abaixo
Espero que tenhas pensado bem
Estou triste que só eu sei
Preciso de alguém
Chaminés pretas deslizam
Nas janelas de mais um comboio
Casas e pessoas
Feias árvores falidas
E um céu angustiado
Tal é o meu quadro
Estou bem chateado
E agora toca a arranjar o buraco
Que eu tenho no coração
Vou mudar de cenário
Que a coisa assim está mal parada
Vou procurar calor
Mudar de estação
Há-de vir alguém
Ao meu encontro na estrada
Pensei tanto em ti
Que não calculas
De manhã, à tarde e ao anoitecer
Andava louco de contente
Só com a ideia de te voltar a ver
Ahh, mas que grande idiota
Voltei a perder
Procuro no fumo e no vinho
A forma de chegar depressa à fronteira
Mas sei muito bem que a dor que sinto no peito
Não vai com a bebedeira
Pus-me a voar a cair
Da pior maneira
E agora toca a arranjar o buraco
Que eu tenho no coração
Vou mudar de cenário
Que a coisa assim está mal parada
Vou procurar calor
Mudar de estação
Há-de vir alguém
Ao meu encontro na estrada
Há-de vir alguém
Ao meu encontro na estrada
sábado, maio 13, 2006
That voice you spoke is yelling in my ears
And I don't believe in love fools...
I'd like to have those eyes you want to kiss
Wishing something
I wish I had that voice you want to hear
I believe in
And I don't believe in love fools
Do you feel something
This feeling is so hard that I can't breathe
Wishing something
I wish you'd touch my hair when I'm asleep
And I don't know
And I don't believe in love fools
I'm tired of this
The words you wrote are putting me away
I'm tired of that
I know that love was for somebody else
And I don't know... me, myself and I
You and I know
You and I try
You and I ran
Leaving old stories far behind
And it feels good
And it's so warm
Having those eyes
Playing with me, myself and I...
I tried to kill those ghosts inside of me
The voice you spoke is yelling in my ears
And I don't know
And I don't believe in love fools...
I'd like to have those eyes you want to kiss
Wishing something
I wish I had that voice you want to hear
I believe in...
And I don't believe in love fools
I believe in me... me myself and I... me, myself and I
You and I know
You and I try
You and I run
Leaving old stories far behind
And it feels good
And it's so warm
Having those eyes
Playing with me, myself and I...
I'm tired of this... I'm tired of that...
You and I know
You and I try
You and I ran
Leaving old stories far behind
And it feels good
And it's so warm
Having those eyes
Playing with me, myself and I...
sábado, abril 29, 2006
In this little town
Cars they dont`t slow down
The lonely people here
They throw lonely stares
Into their lonely hearts
I watch the traffic lights
I drift on Christmas nights
I wanna set it straight
I wanna make it right
But girl you`re so far away
Oh, hold still for a moment and i will find you
I am so close, I am just a small step behind
you girl
And i could hold you if you just stood still
I jaywalk through this town
I drop leaves on the ground
But lonely people here
Just gaze their eyes on air
And miss the autumn roar
I roam through traffic lights
I fade trough Christmas nights
I wanna set it straight
I wanna make it right
But man you`re so far away
Oh, I will hold still for a moment so you wil
find me
You`re so close, I can fell ypu all around
me boy
I know you`re somewhere out there
I know you`re somewhere out there
sexta-feira, abril 28, 2006
O Alquimista pegou num livro que alguém na caravana tinha trazido. O volume estava sem capa, mas conseguiu identificar o seu autor: Oscar Wilde.
Enquanto folheava as suas páginas, encontrou uma história sobre Narciso.
O Alquimista conhecia a lenda de Narciso, um belo rapaz que todos os dias ia contemplar a sua própria beleza num lago. Estava tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado. No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que chamaram de narciso.
Mas não era assim que Oscar Wilde acabava a história. Ele dizia que quando Narciso morreu, vieram as Oréiades - deusas do bosque - e viram o lago transformado, de um lago de água doce, num cântaro de lágrimas salgadas.
- Por que choras? - perguntaram as Oréiades.
- Choro por Narciso - disse o lago.
- Ah, não nos espanta que chores por Narciso - continuaram elas. - Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, tu eras o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto a sua beleza.
- Mas Narciso era belo? - perguntou o lago.
- Quem mais do que tu poderia saber disso? - responderam, surpresas, as Oréiades. - Afinal de contas, era nas tuas margens que se debruçava todos os dias.
O lago ficou algum tempo silencioso. Por fim, disse:
- Eu choro por Narciso, mas nunca tinha percebido que Narciso era belo.
"Choro por Narciso, porque todas as vezes que ele se debruçava sobre as minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza reflectida.
- Que bela história - disse o Alquimista.
quinta-feira, abril 27, 2006
Nossa Senhora, com o Menino Jesus, nos braços, resolveu descer à terra e visitar um mosteiro. Orgulhosos, todos os padres fizeram uma grande fila, e cada um se apresentava diante da Virgem para prestar a sua homenagem. Um declamou belos poemas, outro mostrou as suas iluminuras para a Bíblia, um terceiro disse o nome de todos os santos. E assim por diante, monge após monge, cada um homenageou Nossa Senhora e o Menino Jesus.
No último lugar da fila, havia um padre, o mais humilde do convento, que nunca tinha aprendido os sábios textos da época. Os seus pais eram pessoas simples, que trabalhavam num velho circo das redondezas, e tudo o que lhe tinham ensinado era atirar bolas para o ar e a fazer alguns malabarismos.
Quando chegou a sua vez, os outros padres quiseram encerrar as homenagens, porque o antigo malabarista não tinha nada de importante para dizer e podia desmoralizar a imagem do convento. Entretanto, no fundo do seu coração, também ele sentia uma imensa necessidade de dar alguma coisa de si a Jesus e à Virgem.
Envergonhado, sentindo o olhar reprovador dos seus irmãos, tirou algumas laranjas do bolso e começou a atirá-las ao ar, fazendo malabarismos, que era a única coisa que sabia fazer.
Foi só nesse instante que o Menino Jesus sorriu, e começou a bater palmas no colo de Nossa Senhora.
E foi para esse padre que a Virgem estendeu os braços, deixando que ele segurasse um pouco o menino.
domingo, abril 23, 2006
Num casebre se bambú na minha esteira deitado,
A fumar um narguilé até que passe a monção
Enquanto a chuva derrama a sua triste canção.
Sei que tenho de partir logo que suba a maré,
Mas até ela subir volto a encher o narguilé.
Meu capitão já é hora de partir e levantar ferro
Não me quero ir embora diga que foi ao meu enterro.
Deixem-me ficar deitado a ouvir a chuva cair,
Que ainda estou acordado só tenho a alma a dormir,
Como a folha de bambú a deslizar pela corrente,
Apenas presa ao mundo por um fio de água morrente.
Nos arrozais morre a chuva, noutra água há-de nascer
Abatam-me ao efectivo também eu vou sem morrer.
Para quê ter de partir logo que passe a monção,
Se encontrei toda a fortuna no lume deste morrão.
Ópio bendito ópio, minhas feridas mitiguei
Meu bálsamo para a dor do ser
Em ti me embalsamei
Ópio maldito ópio, foi para isto que cheguei
Uma pausa no caminho
Numa névoa me tornei.
sábado, abril 22, 2006
quarta-feira, abril 19, 2006
Não consigo parar de pensar!
É impossível esquecer!
Tu moras em mim.
Mesmo se eu quisesse,
Não poderia.
Tu moras em mim.
Fatalmente,
Não teria como te expulsar.
Porque um dia,
Tu invadis-te o meu corpo,
Acomodaste-te dele inteiro,
E tornaste-te dono de mim.
Agora, não te consigo esquecer.
Quero acreditar que seja um sonho...
Ou seria fantasia, fascínio, paixão,
Loucura talvez...?!
Não sei. Tudo o que sei é que tu moras em mim.
Como eu queria esquecer-te!...
Se pelo menos, eu pudesse esquecer
O teu olhar,
O calor da tua boca,
O conforto do teu corpo,
As tuas mãos,
O teu jeito de falar,
A tua voz...
Essa voz que um dia me chamou de "Meu Amor"...
Esse sorriso lindo!...
É impossível esquecer-te!...
Se ao menos a morte me tomasse o corpo...
Talvez assim,
Eu pudesse esquecer este imenso amor
Que me consume,
Tortura,
Magoa,
Corrompe,
Corrói.
É cruel viver esta realidade!
Tu, és o meu eterno companheiro,
Mas, mesmo assim,
Eu sou só...
Melancolia,
Tristeza,
Solidão...
Pois, não te tenho.
E sem ti,
Não percebo as cores,
Não sinto o calor do sol,
Nem o perfume das flores,
O brilho da lua,
O cheiro da chuva, do mar...
Sem ti...
A minha vida não tem sentido,
Não tem horizontes,
Sem ti,
É inútil viver...
terça-feira, abril 18, 2006
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida de um lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
segunda-feira, abril 17, 2006
Nada sou nesse mundo...
Nada possuo...
Nada tenho...
Nada quero...
Minhas lágrimas servem-me de mantimento...
Minha respiração de nada mais tem sentido...
Meu céu se enegreceu...
A luz apagou...
As trevas tomaram conta de mim...
E eu não me consegui segurar e caí...
E a morte me levou...
Levou o meu abatido coração...
Que teimava em pulsar pelo amor...
Que insistia em querer-te...
Não posso mais senti-lo dentro de mim...
Não quero sofrer...
Mas neste momento um enorme vazio toma conta de mim...
E uma angústia interminável me domina...
Não sei mais onde recorrer...
Quando sonhei contigo, senti o sonho vivo
Não doeu, não sofri...apenas sonhei
Correu livre a vontade, de dizer
De sentir
De viver de novo o passado
Neste presente inexistente
No qual já não somos,
Permanecemos
Insistindo numa existência sem sentido
Para qual o fim já aconteceu
E eu recuso a reconhecê-lo
Quando sonho contigo, sinto o sonho vivo
Sinto ainda vivo em mim
Não dói, não sofro...apenas sonho
Corre livre a vontade, de dizer
De sentir
De viver de novo o passado
Neste presente que nego
A tua ausência,
Permaneço
Insistindo num sentimento acabado
Para o qual espero o recomeço
E recuso esquecer-te...
Quando sonhar contigo, sentirei o sonho vivo
Não irá doer, não irei sofrer...apenas sonharei
Correrá livre a vontade, de dizer
De sentir
De viver de novo o passado
Num presente que irei negar
Ainda a tua ausência,
Ficarei
Insistindo na existência de um sentimento por terminar
Para o qual viverei
Sempre na esperança de outro sonho alimentar.
sexta-feira, abril 14, 2006
Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mais cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são outunos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...
quarta-feira, abril 12, 2006
Minha alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É magoada, e pálida, e sombria,
Como soluços trágicos do vento!
É frágil como o sonho dum momento;
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso duma boca fria:
Minha alma é a Princesa Desalento...
Altas horas da noite ela vagueia...
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!
O luar ouve a minha alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta...
Fechei meu sonho, para chama-lá.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.
O último passo do destino,
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.
Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.
E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.
terça-feira, abril 11, 2006
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permite que agora emudeça:
Que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio,
e a dor é de origem divina.
Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.
domingo, abril 09, 2006
Os dois Gatos
Sobre uma trapeira um dia:
(creio que não foi no tempo
Da amorosa gritaria).
De um deles todo o conchego
Era dormir no borralho;
O outro em leito de senhora
Tinha mimoso agasalho.
Ao primeiro o dono humilde
Espinhas apenas dava;
Com esquisitos manjares
O segundo se engordava.
Miou, e lambeu-o aquele
Por o ver da sua casta;
Eis que o brutinho orgulhoso
De si com desdém o afasta.
Aguda unha vibrando
Lhe diz: "Gato vil e pobre,
Tens semelhente ousadia
comigo, opulento, e nobre?
Cuidas que sou como tu?
Asneirão, quanto te enganas!
Entendes que me sustento
De espinhas, ou barbatanas?
Logro tudo o que desejo,
Dão-me de comer na mão;
Tu lazeras, e dormimos
Eu na cama, e tu no chão.
Poderás dizer-me a isto
Que nunca te conheci;
Mas para ver que não minto
Basta-me olhar para ti."
"Ui! (responde-lhe o gatorro,
Mostrando um ar de estranheza)
És mais que eu? Que distinção
Pôs em nós a Natureza?
Tens mais valor? Eis aqui
A ocasião de o provar."
"Nada (acode o cavalheiro)
Eu não costumo brigar."
"Então (torna-lhe enfadado
O nosso vilão ruim)
Se tu não és mais valente,
Em que és superior a mim?
Tu não mias? - "Mio." - "E sentes
Gosto em pilhar algum rato?"
"Sim." - "E o comes?" - "Oh! Se como!..."
"Logo não passas de um gato.
Abate, pois, esse orgulho,
Intratável criatura:
Não tens mais nobreza que eu;
O que tens é mais ventura."
quarta-feira, abril 05, 2006
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tinhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos sãos peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
segunda-feira, abril 03, 2006
A Viagem
O comboio vinha muito distraído a olhar para as lindas casas e seus jardins que iam ficando para trás, à beira da linha.
De repente, ficou tudo escuro e veio um frio e um cheiro que não eram de terra. Eram de baixo da terra, do subterrâneo comprido, comprido, onde umas luzinhas vermelhas, de longe a longe furando o negrume, corriam também para trás.
O comboio, por dentro, também tinha luz e podiam ver-se os passageiros uns aos outros, entre os quais um rapaz e uma rapariga, talvez dos seus nove e dez anos. Deviam ser irmãos: iam vestidos de igual, ambos de calças azuis e blusas aos quadrados; só se distinguia a rapariga porque tinha brincos nas orelhas. De vez em quando, ela levava a mão às orelhas, ora uma, ora à outra, a apalpar os ditos brincos. Decerto para se certificar de não os ter perdido.
- Vós ides-vos perder, tenho muito medo - dissera-lhes a avó, vezes sem conta, enquanto se preparavam para aquela viagem que os dois irmãos vinham fazer sozinhos, e para a qual dera o seu consentimento, embora muito contrariada e receosa.
- Não perdemos, avó, não se aflija - afirmava o Manuel, carinhosamente. - Sabemos a direcção de lá e sabemos o telefone do nosso merceeiro; telefonamos para cá a contar tudo, logo que virmos a mãe.
- A mãe e o menino - acrescentava a Manuela, sorrindo à lembrança desse irmãozinho que fora nascer longe de casa, longe deles.
Tinham tido uma grande aflição, toda a família menos o pai, ausente na Alemanha e que não podia regressar nessa altura. Contava vir mais tarde, quando se perfizessem os nove meses, data da criança nova chegar.
Mas ela, a criança, anunciara-se mais cedo. A mãe sentira-se mal, e o médico aconselhara que fosse imediatamente para um hospital na cidade, onde não faltava nada do que era preciso para receber uma criança sem tempo.
Os irmãos tinham ficado emocionadíssimos com aquilo tudo. Uma criança sem tempo, como diziam, seria diferente das outras?
E mal chegara a notícia do nascimento, não sossegaram enquanto não arrancaram à avó a autorização para partir.
O comboio parou por fim, depois de sair da escuridão do túnel.
domingo, abril 02, 2006
sábado, abril 01, 2006
Fico soturno a olhar para o mar
e a pensar num rei a traduzir Shakespeare
numa varanda embriagada pelo sol.
Deixei de ter tempo para espiritualidades,
para o engodo das tremendas interrogações,
para a altivez das perguntas sem resposta.
Fiquei temporariamente domesticado
para uma outra escrita, por um discurso
que não consente divagação ou fuga.
Normalizei-me, e contudo gosto de ver
a mão hesitante e trémula
à beira da consumação do poema
quando a maré assalta a muralha
e traz, misturados com a espuma,
os destroços das vidas que eu sonhei,
das vidas que, se calhar, eu já vivi.