terça-feira, janeiro 17, 2006


Luís Bernardo era o segundo homem da sua vida. Estava casada há oito anos, nunca conhecera outro homem e nunca pensava vir a conhecer. Luís Bernardo era o segundo homem que a beijava, que a despia, que lhe percorria o corpo todo com as mãos e com a boca, o segundo homem que ela via nu, cujo o corpo tocava, primeiro envergonhadamente, depois possessivamente, como se quisesse decorá-lo para sempre. Deitada de costas na cama, deu consigo estupidamente concentrada nas flores de papel de parede do quarto, na cor das portadas da janela, no desenho do toucador onde os objectos de toilette familiares lhe lembraram de repente que era ela que estava ali, apesar de lhe parecer impossível que fosse ela que se entregava nua, que gemia de prazer para dentro, que abria sem querer as pernas para que um homem que não era o seu entrasse dentro de si. Sentiu-se perdida de si mesma, à deriva, caindo dentro de um poço sem fundo, ela era o poço e aquele homem tocou no fundo, tudo era húmido, tudo era líquido e tudo acabava nos seus olhos rasos de lágrimas e na dor funda com que lhe cravou as unhas nas costas, com que o agarrou pelos cabelos e gritou baixinho, como se ele pudesse salvá-la:
- Luís Bernardo! Luís Bernardo!

Miguel Sousa Tavares in Equador

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