segunda-feira, abril 30, 2007


Estive sempre sentado nesta pedra

escutando, por assim dizer, o silêncio.

Ou no lago cair um fiozinho de água.

O lago é o tanque daquela idade

em que não tinha o coração

magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,

dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,

tão feito de privação.) Estou onde

sempre estive: à beira de ser água.

Envelhecendo no rumor da bica

por onde corre apenas o silêncio.

Eugénio de Andrade



Enfrento-me

do fundo da minha covardia me ergo e enfrento

da convicção da minha teimosia arranco a determinação

e do orgulho a vontade de continuar

da vergonha o medo de desistir

e da incerteza a vontade de descobrir

da timidez faço a capacidade de desenrasque

e da falta de eloquência um silêncio inteligente

da tristeza os sorrisos

da solidão a alegria de viver cada momento

do fraco faço forte

e da fraqueza aparência de grande força

só pelo medo de sofrer, que é tão grande em mim.

Carla Ribeiro

domingo, abril 29, 2007


Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que eu quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz precipitado.

Sofia de Mello Breyner Anderson

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa

Sofia de Mello Breyner Anderson

segunda-feira, abril 23, 2007


Esperar é uma Virtude,
conseguir é um Privilégio...

sábado, abril 14, 2007


Venham de lá as flores
Neste nosso verbo Amar
Que as folhas estão caindo
As dores estão sentindo
Uma criança chorar...

Venham de lá as flores
E os frutos por colher
Que as dores estão sentindo
Os homens que vão partindo
A chorar e a sofrer.

Venham de lá as flores
E o Outono vai passar
Que as dores estão sentindo
A Primavera a chegar.

Venham de lá as flores
No milagre do nascer
Que as dores estão sentindo
As verdes folhas, crescer...

Venham de lá as flores
E a Alegria de Viver!

Rogério Martins Simões