quarta-feira, novembro 30, 2005
terça-feira, novembro 22, 2005

Na casa onde Ana morava, nunca batia o sol. Defronte, porém, os vidros das janelas espelhavam a luz do entardecer. Ana gozava sempre com surpresa esta pequena maravilha. Gostava de imaginar tudo o que estava ausente: as árvores, o sol, o mar, os campos. Às vezes sonhava com as coisas que mais amava. E, no dia seguinte, ficava a lembrar os sonhos como quem separa e saboreia os gomos de uma laranja doce e sumarenta...
...E por isso lhe ralhavam: porque ela era estranha e distante - e não parecia alegrar-se muito com as brincadeiras próprias da sua idade!
A escola não era distante de casa. Chegava-se lá por caminhos tortuosos e vielas. Era um velho edifício encardido e frio, entranhado de sombra e humidade. Ana não gostava daquela escola. Os melhores momentos do dia eram os do regresso a casa, pelo caminho mais longo: o do mirante, de onde contemplava o rio, cobra de prata que, sinuosa, se perdia nos longes do horizonte. Ana aprendera a defender-se do que a entrestecia e a escapulir-se da realidade baça dos dias. Refugiava-se no sonho, que acabava por ser a sua realidade...
segunda-feira, novembro 21, 2005

Muitas vezes vejo as pessoas a quem isso acontece. Elas também não pensaram que lhes acontecesse, e o pior não é a doença, mas o conhecimento que tiveram de si próprios. Nós, os fumadores, passamos toda a nossa vida a dizer: "Vou deixar de fumar amanhã." Tente imaginar como é que essas pessoas se sentem por serem quem "carregou no botão". Para elas a lavagem ao cérebro acabou. Elas vêem então o "hábito" como ele realmente é e passam o resto das suas vidas a pensar: "Porque me estive a enganar e me convenci de que precisava de fumar? Se ao menos tivesse a hipótese de voltar atrás!""
Allen Carr
domingo, novembro 20, 2005

"Numa noite de janeiro de 1917, cinco soldados condenados à morte em conselho de guerra são lançados, de mãos amarradas atrás das costas, diante das trincheiras inimigas. O mais novo não tem mais de vinte anos e deixa atrás de si uma jovem noiva e um amor interrompido.
Chegada a paz, Mathilde quer saber a verdade sobre esta ignomínia e descobrir o que realmente aconteceu àquele a quem continua ligada pelos laços de um longo e trágico noivado.
Com mais intensidade do que nunca, Sébastiaen Japrisot oferece-nos nesta história de paixão e mistério o virtuosismo e a magia da sua escrita. A mulher obstinada e frágil, envolvente e subtil, que aqui se encontra na figura de Mathilde, figurará certamente entre as heroínas mais memoráveis do universo romanesco moderno."
Alguém
sábado, novembro 19, 2005

"Esta noite o vento ceifa os bosques e
uma raiva sacode a terra. Se a voz
do mar chamasse pelas velas, os estreitos
aguardariam um naufrágio. E se dissesses
o meu nome eu morreria de amor.
Devo, por isso, afastar-me de ti - não
por ter medo de morrer (que é de já não
o ter que tenho medo), mas porque a chuva
que devora as esquinas é a única canção
que se ouve esta noite sobre o teu silêncio."
Maria do Rosário Pedreira
quarta-feira, novembro 09, 2005

O Outono
O fim do verão. O fim de um período de grande actividade. O baixar de braços para repousar. O frio, a vontade de um banho quente. O abrandar para reflectir. A preparação para o renascimento. O vento frio que nos faz encolher. O abraço que nos aquece. O chão coberto de cores que outrora foram quentes.
A noite que aparece mais cedo. O sol que enfraquece à medida que os dias passam. O conforto de uma camisola grossa e quente. O pôr de Sol gelado. A vontade de ficar por casa. O estar à janela a ver a chuva cair. O conhecer o novo e acolhedor.
Alguém
segunda-feira, novembro 07, 2005

Acorda, Menina Linda
Acorda, menina linda
vem oferecer
o teu sorriso ao dia
que acabou de nascer
Anda ver que lindo presente
A aurora trouxe para te prendar
Uma coroa de brilhantes para iluminar
O teu cabelo revolto como o mar
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
que acabou de nascer
Porque terras de sonho andaste
Que Mundo te recebeu
Que Monstro te meteu medo
Que Anjo te protegeu
Quem foi o menino que o teu coração prendeu?
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que 0 sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Anda ver o gato vadio
À caça do pássaro cantor
Vem respirar o perfume
Das amendoeiras em flor
Salta da cama
Anda viver, meu amor
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Jorge Palma

"Pronto
Agora que voltou tudo ao normal
Talvez você consiga ser menos rei
E um pouco mais real
Esqueça
As horas nunca andam para trás
Todo o dia é dia de aprender um pouco
Do muito que a vida trás.
Mas muito pra mim é tão pouco
E pouco é um pouco demais
Viver tá me deixando louca
Não sei mais do que sou capaz
Gritando pra não ficar rouca
Em guerra lutando por paz
Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero mais
Chega!
Não me condene pelo seu penar
Pesos e medidas não servem
Pra ninguém nos comparar
Por que
Eu não pertenço ao mesmo lugar
Em que você se afunda tão raso
Não dá nem pra tentar te salvar
...veja
A qualidade está inferior
E não é a quantidade que faz
A estrutura de um grande amor
Simplesmente seja
O que você julgar ser o melhor
Mas lembre-se que tudo que começa com muito
Pode acabar muito pior"
Maria Rita
quinta-feira, novembro 03, 2005

"Nunca consegui encontrar o campo de travagem da tristeza. Morri muito para não morrer. Na tristeza encontro ainda o bafo reconfortante da vida. Já não sei o que é ter frio, nem calor, nem dor - mas permaneço triste, por isso existo. Preciso de trabalhar as tintas das minhas mortais tristezas para atingir uma melancolia abstracta. Preciso que essa abstracção te preencha os poros - preciso de te habitar, de te moldar, barroco coração cubista. A tristeza impede-me de acabar de morrer - toma, douta, ajusta ao teu sangue o pudor impudico do que fui. Que te lembres dos meus contornos claros, não chega - toma o lixo infantil que não te dei, as lágrimas manchadas pelas dedadas do meu coração de chocolate. Come-as, deixa-me morrer dentro de ti - deixa-me escolher morrer dentro de ti, porque só essa morte me falta."
Inês Pedrosa in Fazes-me Falta
Inês Pedrosa in Fazes-me Falta
quarta-feira, novembro 02, 2005
" Não importa o que se ama. Importa a matéria desse amor. As sucessivas camadas de vida que se atiram para dentro desse amor. As palavras são só um príncipio - nem sequer o príncipio. Porque no amor os príncipios, os meios, os fins são apenas fragmentos de uma história que continua para lá dela, antes e depois do sangue breve de uma vida. Tudo serve a essa obsessão de verdade a que chamamos amor. O sujo, a luz, o áspero, o macio, a falha, a persistência."
Inês Pedrosa in Fazes-me Falta
Inês Pedrosa in Fazes-me Falta
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